terça-feira, 26 de julho de 2011

É PRECISO


É PRECISO

É preciso ficar aqui, entre os destroços,
E cinzelar a pedra e recompor a flor.
É preciso lançar no vazio dos ossos
A semente do amor.

É preciso ficar aqui, entre os caídos,
E desmontar o medo e construir o pão.
É preciso expulsar dos cegos dias idos
A insónia da prisão.

É preciso ficar aqui, entre os escombros,
E libertar a pomba e partilhar a luz
É preciso arrastar, pausa a pausa, nos ombros,
A ascensão de uma cruz.

É preciso ficar aqui, entre as ruínas,
E aferir a balança e tecer linho e lã.
É preciso o jardim a envolver as oficinas:
É preciso amanhã.
             António Manuel Couto Viana,
                   in “Nado Nada, 1977”
      Lido por Miguel Leitão

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