quarta-feira, 27 de julho de 2011

A POBREZA DOS OUTROS


A POBREZA DOS OUTROS

O padre que, na infância, nos dava a catequese pregava a pobreza no púlpito mas, fora dele, tinha vinhas e senhorios e dizia-se que pagava as jornas mais avaras da região. Um dia em que apareceu com um carro novo, um Taunus azul escuro, o Américo, filho do taberneiro, pôs-lhe uma inocente questão teológica: porque é que Cristo andava a pé ou de burro e não de automóvel? O padre António ofendeu-se; respondeu que burro era ele, Américo, porque no tempo de Cristo não havia automóveis e que, se houvesse, Cristo teria um carrão. Nesse dia, a catequese foi sobre o pecado da
inveja e o Américo teve que prometer que se iria confessar.
Ocorreu-me esta história ao ler na DN que o Papa virá a Portugal (três horas de viagem) num avião adaptado para lhe assegurar o máximo conforto. “O espaço ocupado pela 1.ª classe terá um quarto com cama para o Papa, outro para o seu secretário pessoal, uma casa de banho, uma casa de banho com chuveiro, um salão social e até uma pequena capela”.
            Aprendi a lição do padre António e não duvido de que, se no seu tempo houvesse aviões, Cristo também andaria com cama, salão social e capela trás de si.
                                          
 Manuel António Pina
                                   in “Por outras Palavras”
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lido por Lourdes dos Anjos

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