terça-feira, 5 de julho de 2011

a poesia, meu amor, não está no verso


a poesia, meu amor, não está no verso
está escrita no espírito da Natureza.
a poesia, meu amor,
lê-se na pele da Terra estendida há milhões de anos.
lê-se na frescura da água,
testemunha abençoada da idade e do tempo.
lê-se no melodioso som da brisa,
desflorando o segredo das árvores.
lê-se no silêncio verdejante e no festim colorido das flores.
lê-se no sereno trinar das aves
e no bailado mágico dos suas asas.
lê-se nos olhos gretados das pedras
e nos altos ombros das montanhas.
lê-se no espelho dos rios
e na vastidão ondulante dos oceanos.
a poesia, meu amor, não está na rima.
está escrita no espírito do Universo.
a poesia, meu amor,
lê-se na viagem do vento, na gravidade da chuva,
na alvura da neve, no relâmpago prateado.
lê-se no amanhecer dourado do sol
e no crepúsculo da despedida.
lê-se no império das estrelas
e na luz nocturna da lua, mãe das ilusões.
lê-se no eterno infinito do mais infinito.
lê-se no silêncio dos silêncios.
a poesia, meu amor, não tem estrofes.
lê-se na vibração da vida, na seiva,
na felicidade, na alegria, na esperança.
lê-se na nuvem da angústia, no medo, na dor, na solidão.
a poesia, meu amor,
lê-se no perfume irrequieto do sorriso das crianças.
lê-se na neve dos cabelos,
nos rostos de renda, nos corpos curvados.
lê-se em ti, em mim, unidos num só corpo , num beijo,
numa carícia presa ao movimento
que o germe do afecto nos ordena,
num caudal de
ternura, delírio e desejo.
a poesia, meu amor, não está no verso
lê-se no circunflexo amoroso da Natureza e do Universo.


Teresa Gonçalves
in Pleno Verbo

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