quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

MARIAS


MARIAS

Lá vai Maria, lá vai…
Vai Maria, vai e vem.

Lá vai ela, vai cantando,
como uma cotovia.
Lá vai ela, vai cedinho,
vai lavar roupa no rio

Lá vem Maria, lá vem.
A rodilha na cabeça,
onde carrega o seu cântaro.
Foi à fonte, água buscar.

Lá vem ela, remexendo suas ancas,
com pressa, mas cuidado,
para a bilha não quebrar.

Acende o lume, Maria.
Teu homem está a chegar.
Tens o caldo para fazer,
o pão no forno a cozer,
para lhe dar de jantar.

Vai Maria, vai passando.
Com essa enorme barriga,
um filho está esperando.
Para juntar ao outro,
que ao colo vai carregando.

E o tempo passou!..
Lá vai… lá foi!...

A Maria teve filhos, mais e mais…
Envelheceu e engordou.
Até que enfim, teve netos.

Ficaram outras Maria,
que também vêm e vão.

Já não levam cantarinho,
e à fonte já não vão.
Têm água canalizada…

Do rio, com peixe morto,
não querem sequer o cheiro.
Têm máquina de lavar,
uma arca com congelados,
e comida pré-cozinhada.
É mais rápida, mais fácil,
servir assim o jantar.

As conversas na fonte e no rio,
com as outras Marias,
deram lugar ao sofá,
à T.V. e à novelas,
talvez… “as da vida real”…

Cantar pelo caminho?
Não, que parece mal.
É pimba!
Preferem fazê-lo em “play-back”,
ou então no “karaoke”!

Ir a pé? Nem pensar.
É cansativo.
“Jogging”, é para os tempos livres.
Têm o seu carro, comprado a prestações,
ou ganho nalgum concurso.

Rodilha na cabeça?
Também já não precisam.
É mais útil o “air-bag”,
com que o seu carro está equipado.

E lá vão elas, lá vêm,
na corrida contra o tempo,
de casa para o trabalho,
passando pelo Infantário.

E o tempo passou!...
Lá vai… lá foi!...

E então, outras Marias,
passaram a ser Avós.
……………………………………..

Repete-se o ciclo,
Apenas muda a tecnologia,
Fruto do progresso.

Maria vai, Maria vem…

Ana Maria Roseira
           in “Colar de Estrelas”

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