sábado, 4 de fevereiro de 2012

DUM MICRONDAS A UM ESPERMATOZÓIDE MAL GERADO

DUM MICRONDAS A UM ESPERMATOZÓIDE MAL GERADO

A rua íngreme. Os malditos sapatos quase lhe deslizavam.
Pela força do vento a cabeça rodava-lhe
como se copiasse as rotações dos pescoços das galinhas.
Por cima uma varanda gargalhava…
Desejava sair dali, levantar as solas, vender o visgo “escorrente”.
Varejava como o vento, o bombardeamento congeminado, a tola
gemia-lhe.
Não fora mau, mas a urina, de cima, caía-lhe docemente,
como quem
chamasse por ele, pingava-
lhe em partículas raivosas,
chapinhava-o, dava-lhe um adeus carinhoso, odioso, deveras
lastimoso.
Chegara à rua, toldo de cuspidelas amigas, nunca dantes
atravessadas.
No apartamento fora beijado até à exaustão. Os lábios
tumultos, esses
chamuscavam-lhe a pele. Já quase que grassava gangrena. A
hipocrisia fora-lhe despejada, eivada.
Na rua, deslizava então, sobre o visgo que fluía, dum
transparente luzidio, morno, ciciante, luminoso, festivo.
Cantavam-lhe ao desafio, pelo estrelato do lúpulo.
Mas caía-lhe na cabeça, local de paragens sulfurosas, também de
lábios de mel;
Que peso tal, de paciência, alguma adolescência, também, o
aconselhavam.
Cristalizavam-se em debandada as punhetas transversais, lá num
dos quartos, ali por cima, envolto no pântano das mucosas…
Fora um sem fim, engrenável, de favores à mistura, bonecada
complacente, trombada,
Seria longa a caminhada, rumando ao hospital, recuperando as
resistências, os serviços aguardavam-no.
Nos bolsos encontrara os convites, todos convergentes; fora um
microondas escachado…
Que noite o acariciara!!!
Nem aqueles abraços, beijos, bafos, os banhos com detergente,
no lavatório das louças.
Mãos que o lavavam, dedos que se lhe enfiavam, bocas que o
chupavam, ai que noite,
Que resto de noite esta o esperara.
O médico, esse, já o avisara: serás escoado, meu rapaz, toma
conta de ti, ou morrerás mirrado.
As musas, esses flagelos, flamejantes darão cabo teu corpo.
Dirão que te amam, que a paixão te conduzirá ao Zen,
Que sentirás o esguicho tremente, dando cor à fetidez temente,
do que vales.
Trata de ti, não mostres o teu interior, rasga-lhes apenas todas
as grutas, os veios chamativos, o filão…
Nem que fissures, as demais entradas contundentes.
E da varanda, ali por cima, os cristais ainda se soltavam, nem a
chuva os impedia,
De sulcar o seu corpo.
Drenava-me já em torrentes, caudais viscosos pairavam na sua
tola.
E a chuva, desviava-se dessa banhada, desse amor.
O vento fustigava-o. Em cima, lá no alto continuaria a festa,
Cá em baixo, o mosto escorria-lhe, já pela calçada.
Que noite, que alvorar, que mirrado se transformara,
Que eunuco, ele ficara. Que líquidos, por agora drenara.
Virá a ambulância, os socorros à vista, serás desovado pela madrugada.
Numa rua pedrada, sobre uma varanda, explodiam os gritos,
os esgares; vai-te embora raquítico, jamais destes lábios
pensarás… nada!

Virgílio Liquito

Sem comentários:

Enviar um comentário