sexta-feira, 27 de abril de 2012

SEIS DA MANHÃ

SEIS DA MANHÃ

E os melros,
Que assobiam, em sinfonia nos quintais,
Saudando o dia ou seus amores
Em amoroso e sonoros madrigais.
A aurora vai-se levantando
Entre os lençóis de claridade,
E os melros assobiam melhor,
Com melhor sonoridade!
Seis da manhã! Eu desperto,
Não dispensando, já,
De ouvir melros num belo concerto!
Todavia, outros melros no meu país,
No seu governo, não me fazem feliz,
Mas sim a vida um inferno!
Oxalá que o Gaspar; um ministro garoto,
Não oiça melros a assobiar,
Senão pagam imposto!
 

Silvino Taveira Machado Figueiredo
Figas de Saint Pierre de lá-buraque
14 de Abril 2012

ESCRITA COMPULSIVA

ESCRITA COMPULSIVA

Não tenho mãos, tenho caneta.
Por isso escrevo,
mesmo que isso não dê “cheta”.
Sei que não faço o que devo…
e escrevo.

Não arrumo os livros na estante,
não deito lenha ao fogão,
não rego nem adubo as plantas
nem vou passear o cão.
Não faço nada do que devo,
mas escrevo.

Não tenho sangue, tenho tinta.
Por isso escrevo,
mesmo quando a fome “pinta”.
Não faço aquilo que devo
e escrevo.

Não dou de comer ao gato
nem lhe aplico castigos.
Não cumprimento os vizinhos
nem presto ajuda aos amigos.
Não faço nada do que devo,
mas escrevo.

Não tenho unhas, tenho aparo.
Por isso escrevo.
E quando vens com o teu reparo
não te respondo o que devo…
Engulo em seco
e escrevo…

Não me lavo de manhã,
não dou um jeito ao cabelo,
não saio, não vou às compras,
não me visto, fico em pelo!
Não faço nada do que devo,
mas escrevo.

Não tenho mãos, tenho caneta,
não tenho sangue, tenho tinta,
não tenho unhas, tenho aparo!

Sei que escrever não dá “cheta”,
sei que a miséria já pinta
e que me “chateia” o teu reparo…

Sei que não faço o que devo...
mas escrevo.

Compulsivamente… escrevo…
escrevo… escrevo!...


Miguel Leitão
12 de Abril de 2012

COMEMORAÇÃO DO ANO INTERNACIONAL DA CRIANÇA

COMEMORAÇÃO DO ANO
INTERNACIONAL DA CRIANÇA

Multimilionários
Papas Presidente Bispos Generais
Ministros Deputados Senadores
Reis Cardeias (e acrescento eu: Autarcas)
A fina-flor de quem num certo mundo
manda.

Era um estranho Congresso.

Cada um subia ao pódio
e contava o que fizera
ou projectava
pelos Direitos da Criança.

Alguns
tinham tanto que contar
que se pasmavam horas a falar.

E davam palmas e vivas uns aos outros!

Mas fora do Congresso
e debaixo de céus sem pontas de luar
biliões de crianças em luta
não paravam de gritar:
- Filhos-da-puta!
- Filhos-da-puta!

Fernando Sylvan (Timor)
lido por Eduardo Roseira

ENTRE DOIS MUNDOS

ENTRE DOIS MUNDOS

Fados!
Porque não vim ao mundo
Há mais de cem anos?
Já tudo se teria consumado…

Posto assim, aqui ao meio,
Não verei mais
Os que já morreram,
Tão pouco o viverei com os vindouros…
Não sei viver
Com quem me rodeia…

Nascera há mais de cem anos
Ou mais…
Talvez há duzentos…
Teria sido mulher?
Teria sido pintor?
Compositor?
Escultor?
Ou teria sido apenas
O que sou?...

Por outro lado,
Não tendo ainda nascido,
A vir ao mundo
Daqui a vinte anos
Ou mais…
Talvez daqui a cinquenta,
Cem… duzentos anos…
Quem seria eu, então?...
Astronauta?
Guerreiro das estrelas?
Drogado?...
Ou haveria ainda
Poetas e poesia?...

Então… seria Poeta!
- O único Poeta deste mundo?...
Mesmo que assim fosse, sem meta!


Manoel do Marco

FRAGMENTO DE «OS GRACOS»

FRAGMENTO DE «OS GRACOS»

«………………………………………….»
Os ricos nunca perdem a jogada
Nunca fazem um erro. Espiam
E esperam os erros dos outros
São hábeis e sábios
Têm uma longa experiência do poder
E quando não podem usar a própria força
Usam a fraqueza dos outros
Apostam na fraqueza dos outros
E ganham

Tecem uma grande rede de estratagemas
Uma grande armadilha invisível
E devagar desviam o inimigo para o seu terreno
Para o sacrificar como um toiro na arena
«…………………………………………...»
(Os Gracos, I Acto, II Cena, 1968)


Sophia de Mello Breyner Andresen
in “Obra Poética”
lido por Victor Carvalhais

O TEU ABRAÇO

O TEU ABRAÇO

Dentro de ti os teus brincos
o anel e o colar
o teu véu do casamento
o vestido de noivar
o xaile de seda pura
o cestinho da costura
o bastidor de bordar…

Na gaveta das memórias
guardo o teu livro de histórias
que me faziam sonhar
o teu missal e o teu terço
o teu retrato também…
Mas eu queria o teu abraço
teu abraço meigo e forte
que levaste com a morte…
Querida mãe!


Maria Augusta Silva Neves
20/9/2010

O AÇUCAR

O AÇUCAR

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manha em Ipanema.


Ferreira Gullar
lido por Ana Maria Roseira

MARION BRANDO NA QUARTEIRA

MARION BRANDO NA QUARTEIRA

Num assomo que julguei ser de esquizofrenia
certa manhã de Agosto resolvi vestir fato e gravata

Pentear-me como um forte fixador e afirmar na rua
essa diferente forma de enfrentar quarenta graus

Passeava-me entre os veraneantes de calção ou tanguinha
de panamá na cabeça e havaiana branquinha

Eu com o Giorgio bem engomado e os sapatos cintilantes
Uma gravata de seda e uns óculos provocantes

Olhava todos esperando perplexidade
Mas rapidamente dei conta que não era admiração que causava

Todos se riam à minha passagem
no café na tabacaria no barbeiro

Que estranho mundo este pensei eu
enquanto bebericava um Martini

Porque se riem? Não compreendem a elegância?
Seria inveja ou ignorância?

Nessa tarde fui preso por atentado ao pudor
Tinha-me esquecido de vestir as calças


Luís Pedroso
lido por Maria de Fátima Martins

A TEXTURA ÓSSEA DAS MAGNÓLIAS

A TEXTURA ÓSSEA DAS MAGNÓLIAS

O silêncio raspa o vidro da janela
Um lenço branco acena-me
Círculos de corvos sobre a neve
Movem-se alados sobre mares sem pontes

Vesti-me de negro, fechei o círculo
Remei atrás do silêncio dos corvos
E ali estava eu
Atento à textura óssea das magnólias
Sobre a ponte dos nossos corpos


Conceição Bernardino sob
o pseudónimo de Carlos Val
in “Nono sentido”

MAIO

MAIO

Cantam
grilos e ralos
prenhes cantorias…
Anunciam as noites estivadas
do Verão.

De mãos dadas
passeámos pelo pomar
e as cerejas envergonhadas
soltam um suco adocicado…

Transpiram o nosso amor!

À espera da ceifa mecanizada,
o trigo amarelece nas searas…

Acabaram
as glosas alegres
que as moçoilas cantavam
em seus sorrisos bojudos e abertos
e os olhares gulosos
que os homens colocavam
nos seios saltitantes como dois balões…

Balançam entre os trigais
na sordidez do dia
as hastes das papoilas vermelhas
de cabeças quase prenhes
como ventres de mulher.

Fernanda Garcias  
2011 / 05 / 09









Eu, Luís Pedro Viana, mandatário de “El Rei de Portugal”,
Nesta cidade do Porto, faço publicar
Pelo alvará régio datado do ano de 2012, 
Com chancela da Galeria Vieira Portuense a
Colectânea de poesia dos seus
Ecléticos autores.
Por mui nobre gesto é-lhes permitido
Dar à estampa todos os anos um tomo
Reunindo versos cantando os sentimentos
Da nobre gente deste reino,
Por ser aqui que nasceu Portugal.
A grandeza desta obra é apresentada,
No grau maior da palavra, pela pena fina,
Da professora Dona Fernanda Cardoso
Que, num bravo sonoro aplaudimos e,
Com medalha de gratidão condecoramos.
Nada pode ser maior que o labor
Na busca e selecção da melhor das relíquias que fez,
A ilustre poeta Dona Lourdes dos Anjos,
Respeitou os versos dos autores,
Para se tornarem eternos neste bonito formato.
Tamanha obra floresce com a Primavera,
Aqui neste espaço em liberdade;
Os versos e sentimentos com afectos vestem-se
Multiformes no espectáculo da poesia.
Temos a obra, temos a poesia na Biblioteca Nacional,
Que mais quereis do vosso talento
Se já pertence a Portugal e ser dessa a nossa forma
De viver emocional.
Grita o povo! Benditos os poetas! Benditos…
Que cantam os nossos louvores,
Com genuína fé, sem recuar,
Perante o tanto amor que lhe dedicamos.
Se o povo está contente,
Se ainda há poetas nesta mui nobre Urbe,
Ficamos-lhes gratos
Em nome de Portugal.

Luís Pedro Viana

quinta-feira, 26 de abril de 2012

"Poesia na Galeria" apresentação da Colectânea Galeria Vieira Portuense




 Luís Pedro Viana e João Pessanha
 Fernanda Cardoso



 Eduardo Roseira
 Lourdes dos Anjos
 Lourdes dos Anjos
 Fernanda Cardoso
 Luís Pedro Viana

 Alzira Santos
 Alzira Santos
 Ana Pamplona
 Ana Pamplona
 Fernanda Garcias
Fernanda Garcias
 Kim Berlusa
 Kim Berlusa
 Eduardo Roseira
 Eduardo Roseira









Sessão de Poesia


 João Pessanha
 João Pessanha
 Maria Teresa Nicho
 Maria Teresa Nicho
 Maria Antónia Ribeiro
 Maria Antónia Ribeiro
 Manoel do Marco
 Manoel do Marco
 Luís Pedro Viana
 Luís Pedro Viana
 Maria de Lourdes Martins
Maria de Lourdes Martins