CAMINHOS
DA POESIA
Poesia
e matemática
são
duas forças diversas,mas que se ligam na prática.
As coisas, por mais dispersas,
todas se podem juntar!
Poesia anda por aí,
no céu, na terra e no mar
em tudo que no mundo vi!
Não
existiria o canto
se não
fosse a poesia!Minha avó, sustendo o pranto,
às vezes me adormecia
e a canção solta no vento
‘ inda hoje a estou ouvindo;
decerto por esse tempo
já versos ia intuindo…
Quando
aprendi matemática
a
poesia lá estava.Também ‘stava na gramática!
Então risonha cantava,
baloiçando, a tabuada:
um vez um, um; dois vezes um, dois…
e constatava deslumbrada
que os três vinham depois…
Na
gramática era um todo!
Eu
sou, tu és, eles são.Assim se formava um povo
e nascia uma nação!
Em tudo que a alma pressente,
e no que fui aprendendo,
a poesia presente
comigo lá foi crescendo!
Depois
encontrei a morte
mais o
que ela suporta.Nestes revezes da sorte
a musa fechava a porta
e me fazia uma rima:
- Vida que vai, outra vem,
se tu amas esta sina,
nunca te morre ninguém!
Com
poesia aprendi
que
amar, em nós, é eterno!Com poesia o senti
naquele olhar bom e terno
do rosto da minha avó.
Hoje fito o seu retrato
e nunca me sinto só
cá dentro do meu recato.
Na
matemática somei
cinco
filhos que nasceram,cinco grãos eu semeei
e seis netos sucederam.
Dos filhos que dei à luz
com poesia eu aceito,
alguns cravos desta cruz
que trago dentro do peito.
Foi
poesia e enlevo
o amor
com que os criei;ai quanto aos meus filhos devo
pelas dores que suportei;
pela graça de ser mãe!
Este é um verso profundo
que, inteirinho, contém
poemas de todo o mundo!
E as
vidas são mesmo assim;
a
poesia que eu amose esconde dentro de mim
neste rimar lusitano!
E já estou a pressentir
que no momento prometido,
quando estiver a exaurir,
a levo no meu sentido!
Há
poesia ao morrer
quando
chega a nossa hora;é menos um a viver
o passado, tempos fora
por uns segundos apenas.
Poesia é só deitar-me
entre as poeiras terrenas
e nelas aconchegar-me!
Maria de Lourdes Martins
in "Castelo de Legos"
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