sexta-feira, 30 de março de 2012

A CHUVA FINA

A CHUVA FINA

Miúda e lenta, leve,
Passeia nos meus olhos os
Brilhantes cristais pequenos
Cobrindo como manto a cinza atmosfera.
Miúda e lenta menina,
Terna em sossego
Pequenina, muito fina,
Acalma a fúria entre o sonho
E o real fogo da fera.
Menina sem voz e canto denso
Sempre leve com seu manto.
Contemplo esta dança do céu
Sem a pressa enervante
Ao anunciar um nascer imaginário
De filhos novos crescendo
Num simbólico perpétuo movimento
Para dar vida sem as contas dum rosário.
É agradável como a sentires igual
Ao borbulhar do champanhe numa festa.
Contínua a dança desta noiva,
Aparece miúda e leve;
Mas alegre!
Desce pequenina, miúda e lenta;
A natureza que te espera e, como mãe
Dela se alimenta no ventre, que seja para
Sempre.


Luís Pedro Viana
2012

RÉS/ RÉCITA PRIVADA DUM PÚBLICO AMONTOADO


RÉS/ RÉCITA PRIVADA DUM PÚBLICO AMONTOADO

R/Pública ou Privada: ponto de encontro, das astenias consumidas, afanadas, daquilo que se projecta na culpabilidade assumida. Não se isenta ela, nem que a vaca tussa, por quem não faz, que não pensa, nesta monarquia dissimulada.
Podem ser as punhetas, delas se fala, quase solitárias, são o exemplo nunca acabado das miragens voluptuosas que na vida privada, reflectem o cio público.
Os poderes públicos atiçam a ignomínia privada. Dão-lhe aflições de desordem pública, accionando os seus cacetes em lombos sobre a dita, dos ditos lhes infligem dores privadas. Entretanto em qualquer ânus privado solfejam as caganeiras assimétricas no público nunca privado. E não escasseiam os Patriarcas, que pensam obrar pela cloaca dos outros, naquilo que é privado, do que é tornado público, por muito que reaja como privado. E o reu, ou ré, já não têm liberdade, pois lhes foram sugado a liberdade de não aceitar serem público o que decidiram ser-lhes útil de preceito privado. E não faltam julgamentos aos réus tornados públicos, entremeados por cabeças privadas contra as liberdades de todos os sentimentos, que não os obrigam a defender a sua privacidade.
Então a Récita:
- Que Ré esta, que despejaste na alcova os gritos dum tesão surdo, nem que privado, à luz cinzenta, de tudo que não parece ser público.
Que Rés esta que espia a Ré, a Mãe que nos mostra as tetas quando lhas chupamos, depois de nos tornarmos públicos.
Que nos seja privado o direito de fuga, do estertor, da gnose que nos entulha.
Que não nos impede de ser, simplesmente, Republicanos, nesta Monarquia Privada.


Virgílio Liquito

A ARTE É ALEGRIA

A ARTE É ALEGRIA

A arte deste poema
É como arte de fotografia
Que faz imagens de cinema
Com música em sinfonia!

É como a arte de escultura,
Que esculpe finas tranças,
É como quadro de pintura
Em cores de belas danças!

É como um acto de teatro
Onde tão bem se representa
O Homem como “macaco”!

A vida; banda desenhada,
Na literatura, com sua pena,
Muito bem representada!

E se qualquer uma é alegria,
Todas as artes são poemas,
Todas são poesia!


Silvino Figueiredo
O Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

O COMBOIO DA VIDA…


O COMBOIO DA VIDA…

Pára, avança,
Pára, avança,
Sem sossego, sem parança,
Desenfreada é a dança,
Deste ir, deste voltar…
Pára, avança,
Pára, avança,
E pára, mas sem tardança,
Torna a vir, pra não ficar…

É o comboio da Vida,
A iniciar a corrida,
(Que sem princípio e sem Fim)
Sempre tem o “Seu Começo”
E em jeito de arremesso
Começando diz assim:

- Pára, avança,
Pára, avança,
Sem sossego, sem parança,
Desenfreada é a dança,
Deste ir, deste voltar…
Pára, avança,
Pára, avança,
E pára, mas sem tardança,
Torna a vir, pra não ficar!…

Surge a primeira Estação
Tem Primavera-Verão
Que na Vida quer dizer.
- da Infância à Puberdade –
É um Tempo sem idade
Que a verdade quer saber!

Pára, avança, pára, avança,
Sem sossego, sem parança,
Desenfreada é a dança,
Deste ir, deste voltar!…
Pára, avança, pára, avança,
E pára, mas sem tardança,
Torna a vir, pra não ficar…

E vem a Estação Segunda
A hora em que a Seiva inunda
O Homem e a Mulher;
Esta Segunda-Estação
É tempo de Afirmação,
É tempo certo de Querer!...

Pára, avança,
Pára, avança,
Sem sossego,
Sem parança,
Desenfreada é a dança,
Deste ir,
Deste voltar…
Vai e volta,

Pára,
Avança,
E pára,
Mas sem tardança,
Torna a vir,
Pra não ficar!…

E chega a ‘stação Terceira
Que por ser a Derradeira
Traz Tempo pra Descansar…
Prós cabelos, traz a Neve,
E faz nosso tempo breve
Com muito tempo pr’Amar!...

Pára, avança;
Pára, avança;
E o Comboio é só tardança,
Volta a vir, pra lá ficar!…
 

Maria Mamede
in “Pelas letras do alfabeto”
lido por Irene Lamolinairie

INTUITIVO IMPULSO

INTUITIVO IMPULSO

Certa vez,
Num jardim,
Onde árvores e plantas várias,
Harmoniosamente coabitavam,
Uma linda menina,
Um desconhecido impulso sentiu!
Por ela, uma jovem figueira,
Parecia mesmo chamar!
Tal seria possível?
À medida que da figueira se aproximava,
Mais forte, o impulso todo o seu corpo invadiu!
A figueira abraçou
Elevou o espírito e acreditou.
E a árvore ouviu e bem compreendeu.
A figueira feliz estava de naquele jardim habitar,
As pessoas que dele cuidavam,
Todos os seres bem tratavam.
De olhos fechados, a menina continuava atentamente a escutar.
Gostava tanto de lá estar,
Parecia a jovem figueira dizer,
Que o seu maior sonho, era crescer e crescer,
Para saborosos figos,
Àquela generosa família retribuir,
Também gostava do sol que a iluminava e aquecia,
Das noites de lua cheia,
E do orvalho que generosamente, gotículas nas suas verdes folhas acumulava.
Mas...
Sentiu a menina, que sede a árvore sentia!
Sem vacilar,
Para o rio mais próximo correu,
Numa vasilha, água guardou,
E na pequena figueira, o seu precioso líquido entornou.
Um leve abano, todas as folhas tiveram,
De um eterno, sentido e agradecido,
Obrigado, Obrigado,
Silenciosamente, murmuravam para a menina,
E para todo o Universo!
 
Cristina Maya Caetano

TRAÇO


TRAÇO

Traço a colheita da minha vida…
Já escolhi o vindimador,
H…omem.
Aquele que me olha pelo tacto,
sente a maturação da fruta
na textura dos meus seios;
Trinca, suga e saboreia
como cachos maduros,
escorre o suco pela boca
e cai-lhe no corpo.
Recolhe na palma da mão,
mão cinzelada em marfim,
esse líquido doce e viscoso ;
Mistura as tuas cores neutras,
imparciais mas precisas no amor,…
Com teus dedos finos contorna as linhas,
as nervuras do meu corpo quente
e  sobre ele pinta uma vinha…
Traço uma parra sobre teu sexo e,
nossa vindima será casta.

Fernanda Garcias
2012 / 02 /21

UMA ANDORINHA

UMA ANDORINHA

Uma andorinha no céu
Assinala a Primavera
As árvores florescem
E, eu à tua espera

Aves cantam no campo
Prados são verdejantes
Fazem ninhos nos beirais
Beijam-se os amantes

Andorinha, voa, voa
Assim veloz como o vento
A minha voz entoa
No teu pensamento

Teus cabelos bailando
No puro firmamento
Teus olhos cintilando
Como estrelas no tempo

Andorinha trás de volta
Saudades que já lá vão
Traça a minha nova rota
Afaga o meu coração


                 César de Carvalho

FALA

FALA

Fala a sério e fala no gozo
fá-la p’la calada e fala claro
fala deveras saboroso
fala barato e fala caro

Fala ao ouvido fala ao coração
falinhas mansas ou palavrão

Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Fala franciú fala béu-béu

Fala fininho e fala grosso
desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se fala fosse andar
fala com elegância muita e devagar.
 

Alexandre O’neill
lido por Ana Pamplona

MINHA BANDEIRA

MINHA BANDEIRA
- Minha enxerga, minha mortalha

Manto da Pátria, luso cobertor,
De heróis sudário, farda de guerreiros,
Trapo sublime, trapo bicolor,
No sertão enxerga de pioneiros.

Umbela de teus filhos, benfazeja
Luz que nas trevas brilha e se afoita,
Em todo o lusitano olhar lampeja,
Honra dos corações, onde se acoita!

Minha Bandeira, maternal mortalha!
Símbolo nacional – o mais sagrado,
Por vezes escárnio da escumalha;

Se, torpemente, fores ultrajada
Por míseras traições da vil canalha,
Também minha face verás esfarrapada!


MANOEL DO MARCO

PORTUGAL ACTUAL


PORTUGAL ACTUAL

Neste momento
Ser português é
Sentir saudade
Dum país
Que já não o é.
Não existe
O Portugal
Que conheci,
Estudei
E que me habituei
A respeitar
E a amar!
Para onde vais, meu país?
Estás sombrio.
Trazes nos olhos tristes
A tristeza dum Rei
Que não voltou.
Onde está
O Portugal das
Descobertas?
Do Infante!
Do Gama!
Do Cabral!
Do Camões!
O meu País
Não é este
O dos “compadrios”
O dos “desvios”
O da pouca “Portugalidade”
Navegas, agora Portugal,
Por “mares” de corrupção
Em “caravelas”
De mentiras e de fraudes.
Volta atrás, peço-te,
Para que te possa
Amar
E abraçar novamente
E como sempre,
Com muita, muita
Emoção!


Maria Antónia Ribeiro
in “Emoções”

ANSIEDADE


ANSIEDADE

E a ânsia de fugir a tudo cresce, cresce!
É como a vaga que, feroz, brutal,
Embate, violenta, no areal.

E a ânsia dentro de mim alaga, alaga!
É um Niagara de fel e de revolta
O que anda à minha volta.

E a ânsia de sonhar aumenta, aumenta!
É como a labareda do desejo,
Que se não satisfaz com um só beijo!

E a ânsia de esquecer é enorme, enorme!
Quem pudesse dormir a vida inteira,
Como no berço uma criança dorme!

E a ânsia de viver ainda, ainda!
Deve ser igual à do doente
A quem a vida finda

Sei que esta ânsia jamais terá um fim,
Pois é a ânsia da humanidade inteira
Aquela que eu trago dentro de mim!


Esmeralda Tavares de Carvalho
lido por Alzira Santos

UMA QUALQUER PESSOA

UMA QUALQUER PESSOA

Precisava de dar qualquer coisa a uma qualquer pessoa.
Uma qualquer pessoa que a recebesse
num jeito de tão sonâmbulo gosto,
como se um grão de luz lhe percorresse
com um dedo tímido o oval do rosto.

Uma qualquer pessoa de quem me aproximasse
e em silêncio dissesse: é para si.
E uma qualquer pessoa, como um luar, nascesse,
e sem sorrir, sorrisse,
e sem tremer, tremesse,
tudo num jeito de tão sonâmbulo gosto
como se um grão de luz lhe percorresse
com um dedo tímido o oval do rosto.

Na minha mão estendida dar-lhe-ia
o gesto de a estender, e uma qualquer pessoa entenderia
sem precisar de entender.

Se eu fosse o cego
que acena com a mão à beira do passeio,
esperaria em sossego,
sem receio.
Se eu fosse a pobre criatura que estende a mão na rua à caridade,
aguardaria, sem amargura,
que por ali passasse a bondade.
Se eu fosse o operário que não ganha o bastante para viver,
lutava pelo aumento do salário
e havia de vencer.


Mas eu não sou o cego,
nem o pobre,
nem o operário a quem não chega a féria.
Eu sou doutra miséria.
A minha fome não é de pão, nem de água a minha sede.
A minha mão estendida e tímida, não pede.
Dá.
Esta é a maior miséria que no mundo há.
E eu que precisava tanto, tanto, de dar qualquer coisa a uma
qualquer pessoa!


E se ela agora viesse?
Se ela aparecesse aqui, agora, de repente,
se brotasse do chão, do tecto, das paredes,
se aparecesse aqui mesmo, olhando-me de frente,
toda lantejoulada de esperanças
como fazem as fadas nos contos das crianças?

Ai, se ela agora viesse!
Se ela agora viesse, bebê-la ia de um trago,
sorvê-la-ia num hausto,
sequiosamente,
tumultuosamente,
numa secura aflita,
numa avidez sedenta,
sofregamente,
como o ar se precipita
quando o espaço vazio se lhe apresenta.

 
António Gedeão
lido porMaria de Fátima Martins

PRESÍDIO

PRESÍDIO

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


David Mourão-Ferreira
in “Obra Poética”
lido por Fernanda Cardoso

Belíssima


Belíssima… a Deusa vive em mim!
Vejo-a através deste meu olhar em todas
as mulheres…

Belíssima elas renascem douradas de Amor…

Prontas como sempre estiveram…
Prontas para dar vida à Luz…
Para serem vida na Luz!

Belíssima a Deusa vive em mim!


Fernanda das Neves
in “Palavras de Amor e Reconciliação”

terça-feira, 27 de março de 2012

Suposta maturidade luminosa
Que olho translúcido, pendurado sob um Sol ardente.
Dum iluminismo intermitente.
De olhar por dentro pelo comum da incerteza.
Que claridade, nem que cinzenta turva,
Que destino augurado não se estica,
Que sacrifício de quem olha o olhar desmerecido.
Que demitente, que demisso.
Que poste se segurará,
Que sacrifício existirá, sobre quem, pela luz,
Não deixará de se cair de todas as sombras
Sábias, intransponíveis.
Que existencialismos, que surrealismo, que pedantismo,
Não cegam,
A clarividência de todos os olhos escachados,
Por tantas ventanias
Por vaporizações de tantos eunucos, num domingo de Sol encomendado.


Virgílio Liquito

LIBERDADE

LIBERDADE

Quem é que tem Liberdade?

Será o Vento que passa?
Mas se o Muro o faz parar?!
Será a Chuva que cai?
Mas, se ao cair no chão, ela se esvai?!
Talvez o Mar, poderoso, que faz as ondas ir… ou vir?
Mas se a Lua o controla, comandando suas marés?!
Será, talvez, o Homo sapiens, o tal que se julga o
Senhor da Natureza?
Mas, se há a Morte que o leva, quando em seu esplendor está?!

Mas, afinal, o que será LIBERDADE?
Talvez… “Livre para se dar”!!!
 
Tal, se fosse uma verdade,
Conduzia à Felicidade!
Só que, contra a Liberdade,
Ainda existe a Escravatura!
E o Homem, que tanto luta
P’la Liberdade sonhada,
É o mesmo que a escraviza,
P’ra nunca ser encontrada!

Liberdade, oh Liberdade,
Estendo a mão p’ra te buscar,
Sem conseguir-te alcançar!


Ana Maria

O BÉBÉ PERDIDO

O BÉBÉ PERDIDO

O desfolhar dos dias na roda do calendário
dizem que o tempo passa
mas ele fica no choro do desespero
nos buracos do telhado nas telhas que se desgastam

e a criança abandonada no chão
ou esquecida na esquina
não sabe que mais chorar
no terror de estar sozinha

aceita quem lhe dê colo
e lhe fale ternamente
e a leve para uma casa aquecida
onde haja televisão
e crianças a brincar

Já se calou sua fome
já se apagou sua sede
agora bebe o seu leite
só lhe falta a voz da mãe

o apagão da cidade serviu-lhe para dormir
o silêncio das prisões facultou-lhe a inocência
e o berço onde a embalam é leve e aconchegado
mas o mundo de lá de fora continua a desfazer-se
no desespero dos vivos que cegam e ensurdecem
conforme as guerras avançam e os soldados fogem
pelas fronteiras de aço dos seus países sangrados
na crise e na podridão…


Fernando Morais

E AS MANHÃS?

E AS MANHÃS?

As manhãs são apenas manhãs;
Mensageiras do Sol!
Olhos do nosso olhar
onde pomos o nosso a brilhar!
As manhãs têm o seu orvalho;
Lágrimas de sonhos nocturnos!
Entregam a sua herança ao dia nascente,
Que gastam seu orvalho no brilho do olhar da gente
em suores de trabalhos até à noite que chega
onde o sonho,
novamente,
espera que outra risonha manhã nos aconchegue!

Silvino Figueiredo

No descampado negro há manchas de sangue, há restos de
homens e de cavalos, há motores partidos, há metais
quebrados, e a sombra de Cristo a pairar, a pairar.

Que é dos belos moços que os velhos ricaços roubaram às mães?
Que é dos belos sonhos que os ricaços velhos roubaram aos moços?
Que é das flores silvestres que a terra não dá, ó descampado negro manchado de sangue?
Que é das flores silvestres, que é das flores silvestres, homenzinho gordo, baixo e de charuto?
Que é das flores silvestres, que é das flores silvestres, franjado tirano do bigode minúsculo?
Que é das flores silvestres, ó farto industrial de mil histórias, ó sólido capitalista, ó proprietário de mil propriedades, ó traidores ricos, ó traidores pobres, que é das flores silvestres, ó pobre gente, que é das flores silvestres?

No descampado negro uma papoila insiste
E a sombra de Cristo paira sobre ela.

Maria Almira Medina
in “Madrugada”
Lido por Lourdes dos Anjos

INTRÓITO

INTRÓITO

Das tuas mãos de vidro, carregadas
De jóias tilintantes e doentes,
Das palavras que trazem afogadas,
Das coisas que não dizes mas entendes.

Do teu olhar virado às madrugadas
De fantásticos e exóticos orientes,
Do teu andar de tule, das estocadas
Dos gestos que não fazes mas que sentes.

Dos teus dedos sinistros, de tão brancos,
Dos teus cabelos lisos, de tão brandos,
Dos teus lábios azuis, de tanta cor,

É que me vem a fúria de bater-te,
É que me vem a raiva de morder-te,
Meu amor! Meu amor! Meu amor!
 

José Carlos
lido por Irene Lamolinairie

PRIMAVERA

PRIMAVERA

Entras sempre a vinte e dois
Teu ciclo rejuvenescimento
Lindas flores bela sois
Primavera vida pensamento.

Verdes campos água cristalina
O cantar das aves traz-nos alegria
O sol aparece por entre a neblina
A noite começa com Avé Maria.

Acordar do sonho que me envolveu
Primavera vida é paz e amor
Milagre de Deus isso aconteceu
O cântico das aves o desabrochar da flor.

Vida paraíso do meu pensamento
Límpida correndo como sendo rio
Minha alma voa nas asas do vento
Corcel galopante a ti me alio.

Primavera Páscoa procissão
Festas por toda a parte
Alegria canção emoção
Vitória de toda a arte

João Pessanha
10/03/2012

PRIMAVERA

PRIMAVERA

Entra-me a veiga pelas janelas,
Empenas abertas de par em par;
Entra a luz do dia e do luar
Suavizando minhas penas.

Macieiras em flor enviam pétalas
Brancas e rosa, delicadas.
Borboletas ainda não beijadas
Visitam-me silenciosas e belas.

Verdes rebentos nas árvores despontando
Trazem-me a Primavera que vem chegando
No peito de andorinhas bem mimosas.

Sôfrega, absorvo o ar fresco em redor.
As avezinhas cantam o seu amor,
Libertando-me de saudades ansiosas!


Maria Irene Costa
in “Teia de Afetos”

UNIVERSO DOS SONHOS

UNIVERSO DOS SONHOS

Sonhar acordada
Olhando as estrelas
A chuva o vento ou mesmo
O brincar das nuvens
Mas a tua imagem o teu olhar
E esses teus gestos aparecem sempre
E quando no meu pensar
Começo eu a rezar
Deixo de ver a santa imagem
Para me surgires
Em imagem real
Que parece que te vejo
E começo a ouvir a tua voz
E deixo de rezar
Para te começar a amar
E no silêncio da noite
Olho ao meu lado
Tudo vazio
Só no meu coração
Está cheio de amor
Ou no meu sonhar?
 

Emília Costa
in “Sarrabiscos de ontem,
De Hoje ou Talvez Do Amanhã”

A NOBREZA DO NOBRE

A NOBREZA DO NOBRE

Já fui ensaísta, dramaturgo, filosofo
Num palco feito de esferovite
Parti cascalho dei o corpo ao diabo
Dividi um metro ao quadrado
Cortei o cabelo vesti um fato engatei uma gravata
Larguei o martelo comprei uma esferográfica
Aluguei um gabinete… Diplomata
E com uma grande lata gritei:

- Quem o povo?
- Vão para o raio que os parta!

Mudam-se os tempos ficam os tachos
 

Carlos Val
11-04-11
lido por Eduardo Roseira

sexta-feira, 23 de março de 2012

SEM CONTAR

SEM CONTAR

Sem contar,
Toca o telefone,
Quem do outro lado será?
Por certo de alguém conhecido,
O que a dizer terá?
Saudações,
Meiguices,
Por certo, casualidades,
Seguramente, banalidades,
Um belo convite,
Ou apenas um simples olá,
Tudo acontecer, poderá!

Sem contar,
Toca o telefone,
Quem do outro lado será?
Desconhecida voz,
Incógnito número,
Hummmm!
Desligar é o prudente,
E a racionalidade,
O primeiro impulso comanda,
Hummm!
Mas,… mesmo assim,
A conversa prossegue,
Talvez de alguém que à muito não se via,
Apenas se trate,
E interessante se torne,
Agradável até.
O momento certo sido tinha,
Pelos dois criada,
Bebido da fonte universal,
Bem ao jeito seu.

Sem contar,
Vozes,
Do nada surgem,
Afinal,..
Surpreendente,
A vida sempre é!
Pode! Deve!
Se consciência para tal,
Sempre presente se tiver!

Cristina Maya Caetano

H...OMEM

H...OMEM

Estende- me
sobre o leito da tela…
Delineia a lápis
as curvas do meu corpo,
marmóreo e macio…
Afaga-o
com teus dedos esguios e
sente o relevo das colinas…
Mistura na paleta
nossos enlevos voluptuosos,
em delicadas pinceladas,
pinta os cheiros,
os cheiros que nos une.
 

Fernanda Garcias
2012 / 02 / 29

MULHER


MULHER

Como ela se move
No corpo vestido
Ao acreditar que gosta
Do seu corpo despido.
E acredita nas sedas, e
Nos veludos que cobrem seus feitios.
A andar e parar se move
Ao fingir fugir.
Agora chove e ela se move.
E tu acreditas
O que vem do vento.
E de ti finge fugir.
É mulher.
E tu acreditas
Como ela se move
E diz talvez…
E tu acreditas
Alguma vez…
Que gosta de gostar
Do que sente no ventre.
É mulher
E acredita estar a gostar.
E tu?
Oh! Eu não sou Jesus
E não lhe quero a Cruz.

Luís Pedro Viana

FADINHA LOTUS de Cristina Maya Caetano






quinta-feira, 22 de março de 2012

Poesia na Galeria

 Maria de Lourdes Martins
Maria de Lourdes Martins
 Luís Pedro Viana
 Luís Pedro Viana
Manoel do Marco
 Manoel do Marco

 Irene Lamolinairie
 Irene Lamolinairie
 Ana Maria
Ana Maria
 Alice Macedo Campos
 Alice Macedo Campos
Cristina Maya Caetano
 
Cristina Maya Caetano
 Virgílio Liquito
 Virgílio Liquito
 César Carvalho
César Carvalho
 Eduardo Roseira
Eduardo Roseira
Eduardo Roseira
 Ana Pamplona
 Emília Costa
 Emília Costa

 Irene Costa
Irene Costa
 Fernanda das Neves entrega a obra de sua autoria ao sorteado da Sessão,
Eduardo Roseira