O TRASEIRO
DA ERMELINDA
Puseram
no meu caminho esta vila
esta
rua pequenina, este sol, este recantoera o trajecto antigo dos andores
dos funerais a pé, dos mil sabores
da fruta e que era dos senhores…
Puseram
no meu caminho estas vidas
e Se
Ritinha, a Claudina, o Mataafonsoqueridos personagens duma infância torta
com o som dos pardais, dos grilos, dos pedreiros.
E eu não sabia de outra felicidade
que não fosse ver passar o rabo da Ermelinda
Puseram
no meu caminho esta sorte
de ter
fome e ter desejos e ocultá-losnaquela infância florida, aventurosa
cujos aromas sãos me adoçaram vida
Agora
quero cismar que ainda existe
uma
tal vila e essa rua, esse recantoonde nada do que vivi, hoje subsiste
a não ser o Torne mas agora sem encanto.
Puseram no meu caminho a terra mais bonita
mas que não durou o espaço de uma vida
as suas casas partidas e arrombadas
as suas gentes falecidas e enterradas
e o traseiro da Ermelinda nunca mais passou
frente aos meus olhos totalmente embevecidos.
Fernando Morais
in "O Poeta Escondido"
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