terça-feira, 20 de julho de 2010

CASSIO MELO RECEBE DIPLOMA DE COLABORADOR EMÉRITO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Durante a Tarde de Poesia no Clube Literário do Porto, com os poetas Maria de Lourdes dos Anjos, Leonor Reis, Maria Ramahjal Jorge, João Pessanha, Fernanda Cardoso, Constância Nèry e outros, o artista plástico Cassio Mello, convidado pelo poeta portuense Jorge Vieira, recebeu o Coronel Comandante do Colégio Militar de Curitiba em missão na Italia - Carlos Roberto Pinto de Souza, que visitou o pintor, na cidade do Porto, para entregar a Cassio Mello o diploma de Colaborador Emérito do Exército, oferecido pelo Ministério da Defesa do Exército Brasileiro - Departamento de Ensino e Pesquisa, pela criação e confecção Lenzi, do painél cerâmico, em comemoração ao aniversário de 200 anos do General Osório.

domingo, 18 de julho de 2010

Políticos

José Guimarães
serigrafia

Levam mentiras para os palácios,
Roubam do povo cores do arco-íris,
Nos livros escrevem prefácios
Que tornam negro este país

Vivem de exauridos tesouros,
Rapam do povo todos os cobres,
Atribuem-se comendas d’ouro
Por aumentarem os pobres!
Ai esta desgraça sorte,
Deste país,
Deste povo,
Que vive sem rumo,
Sem norte,
E que dele,
Nos palácios fazem um bobo!

Quando é que o povo
Deixa de ser bobo
E aprende a varrer
E a limpar
Para que sobre os seus palácios
Arcos-íris possam pairar?

É azul o céu do meu país,
E seu povo um povo nobre,
Haja quem o saiba fazer feliz
E não dele faça um pobre
E que de norte a sul
Deste país,
Do nosso Portugal,
Predomine o céu azul
E as cores do arco-íris!

Silvino Figueiredo

Poesia Derrotada

Porfírio Alves Pires
óleo s/tela
Pede-se à poesia
Que se busque a beleza
Na fraqueza
Da natureza
Humana
Todavia
Perante tamanha violência
Tanta guerra
Tanta sangria
Tanta dor
Perante tamanha corrupção
Tanto desemprego
Tanta falência
Tanta fraude
A poesia sente-se derrotada
Condenada
Forçada
À rendição
Sem aconchego
Sem alento
Sem motivação
Para cantar o bem e o amor

Silvino Figueiredo

O futuro é dos camelos!

Luis Berrutti
escultura em ferro
Olha a grande admiração
O clima estar a mudar!
Houve sempre evolução
E assim vai continuar.

Vem aí tempo mais seco,
Já o sentimos na pele,
Vai aumentar o deserto
Sem que nada possa detê-lo.
Perante esta realidade
Que deve fazer a gente?

Coisa simples;
Simplesmente passar a ser verdade
O que tem sido parcialmente;
Os homens passarem a camelos
Definitivamente.

Se os desertos estão a aumentar
Só homens-camelos podem medrar!

Deixemo-nos de fingimentos,
O futuro, o mais certo,
será dos camelos
Que dominarão o deserto!

O homem é um animal,
Muitos são muitos animais,
Homens-camelos já há,
No futuro muitos mais!

O futuro dum tempo seco,
Dum mundo
Cada vez mais deserto,
É dos camelos!

Já vejo muitos por perto!

Silvino Figueiredo

Novas trovas

Carlos Godinho
óleo s/tela

No sereno cair de tarde,
Deixo cair meu querer,
O sol da manhã já não arde
E em mim o arrefecer!

No meu mar de tranquilidade
Só quero fases de luas novas
Só quero um mar de suavidade
Com marés de novas trovas

No leito macio da minha cama
Só quero ondas na superfície,
Feitas por ventos de quem me ama
E como sereia me enfeitice.

É nesta languidez de meu querer,
Nesta plácida serenidade,
Que fico quieto, sem me mexer
Ou com amor em tempestade!

Fui levar a morte a casa,
Que em vida andara perdida,
No caminho ia na brasa
Para a paz já merecida!

Coitada da morte,
Que teve vida atroz,
Só depois de chegar a casa
Teve a sorte de ter vida sossegada
E ser lembrada dentro de nós!

Silvino Figueiredo

Mar Marejado

Luis Soares
serigrafia
Lágrimas banham
Os teus olhos
E fazem aumentar
O oceano
Da minha tristeza

As lágrimas dançam
E a tremer
Sem descanso
Hesitam em cair
Não se querem ferir
E ficam ali
A bailar no teu olhar

Penso, então:
- Dou-te um lenço?
Decido que não

Dou-te beijos
E as lágrimas
No teu olhar
Acabam por secar
E acabaste a bailar
Na alegria do meu mar

Silvino Figueiredo

Mar

Bela Mestre
aguarela

No mar encontro a razão mais forte,
Da quietude e do encantamento;
Nas suas ondas baila a doce morte;
Mistério solene em cada momento.

No mar há franjas inquietas de espuma,
Que se dissolvem pela areia molhada,
E as gaivotas que voam uma a uma,
São os cânticos da minha madrugada.

Cânticos que animam toda a ilusão,
Que os sonhos teimam em construir;
Mas este Mar Português traz a canção,
Desde Nobre Povo que quer sentir.

Sentir o pulsar da sua energia,
Lamentos que soluçam das marés,
Qual doce e eterna sinfonia,
Deste mar, aqui perto, a meus pés.

Jorge Vieira

COMO É BOM SONHAR!

Carlos Godinho
óleo s/tela
Como é bom sonhar e ter ilusão,
Presa ao querer e à vontade;
Mesmo incontida, a negação,
Soa a desprezo, a falsidade.

Como é fácil sentir o pensamento,
Viajar pelas esquinas da loucura;
Sentir-se sorrir, ter encantamento,
Desde o raiar do sol, à noite escura.

Nas asas da aventura, viajamos
E de braços e inquietos;
Prendemos o olhar por onde vamos,
Atentos aos desejos mais secretos.

E mesmo que a dureza dos caminhos,
Procure controlar os nossos passos;
Sintamos o prazer de estar sozinhos,
Com os sonhos aos nossos braços.

                                                     Jorge Vieira

A vida é vereda

Mari Carmen Calviño
óleo s/tela

A vida é vereda
Sem saída com vida,
Vida nela caminha e medra
Vinda de nascente
A caminho do poente
Sem aurora nascida!

A vida melhor sorte merecia,
Mas se fosse eterna
De podre apodrecia!

Só a morte é eterna,
Onde cada morte mais vive
Do que enquanto viva vivia!

                                        Silvino Taveira Machado Figueiredo

quarta-feira, 14 de julho de 2010

VIAJANDO NO 70 OU TALVEZ NO 803





Nunes Amaral
Eléctrico I
Acrilico s/tela
100 X 65 cm

VIAJANDO NO 70 OU TALVEZ NO 803

Dra. Maria de Lourdes dos Anjos

O Porto começa a esvaziar-se. No Bolhão, o trânsito não se aguenta.
Uma multidão vai entrando, ordeiramente, no autocarro das dezasseis e cinquenta.
Marcam o passe os que partiram de casa, de madrugada, para trabalhar
E regressam desanimados, esbaforidos, mortinhos por descansar.
Os que andaram toda a tarde, no Porto, a ver as montras
E nos primeiros lugares se alapam,refestelados, como lontras.
Os que foram fazer análises à diabetes e "tantas" radiografias...
E depois falam de doenças,remédios, chás e bruxarias.
De pé, um jovem que moldou o cabelo em forma de penacho
Com as cuecas à mostra e as calças pelo rabo abaixo.
O homem negro que chamaram para uma entrevista qualquer,
Fala ao telemóvel e rabuja contra o governo e contra a mulher
Um fulano, sem dentes, cheirando a vinho que tresanda,
Acompanha os solavancos do pára, arranca e anda...
A menina provocante do centro comercial, vai muito sisuda,
Lendo, na revista das telenovelas, o horóscopo que não muda.
A jovem adolescente, de tatuagem no pescoço,impregnada de perfume,
Leva as hormonas aos saltos e sente-se o sexo em lume.
No autocarro seguem o politiqueiro, o fala barato e o treinador de bancada.
Conhecem meio mundo, falam pelos cotovelos mas dizem pouco ou nada.
O pai da " estudanta" que foi praxada pela noite dentro,coitadinha...
Fala, todo gabarola, dos projectos de doutora da sua filhinha.
A Diana Vanessa, no colo da avó, dá pontapés,faz birra e chora
E a mãe, enervada,ameaça de a mandar pela porta fora
No cruzamento, o motorista dá uma tocadela ao tipo da motorizada
O senhor de blusão de couro e fio de ouro ao peito diz:É tudo uma canalhada!
A senhora de canadianas desequilibra-se e solta um palavrão
O velhote gordo ri-se mas salta do seu lugar e deita-lhe a mão
No banco do fundo, segue a senhora que sabe tudo de toda a gente
Fala de quem se divorciou, de quem tem calotes no talho e de quem morreu infelizmente...
Um catraio pousa a mochila e encosta a cabeça à janela
Passa pelas brasas, a viagem faz-se e ele nem dá por ela
No Bonfim, sem gente para entrar, a paragem não se faz
Então, ouve-se de repente:oh senhor motorista, olhe a porta de trás!
Este autocarro transporta os fardos que as vidas carregam
É o retrato fiel da educação e dos direitos que ao povo negam
Parte, a meio da tarde, com destino ao fim do mundo
Leva corpos gastos,olhos baços e almas cheias de Portugal profundo
Segue pelas ruas da amargura, apinhado de gente e cheio de solidão
Cumpriu o horário o autocarro que,às dezasseis e cinquenta, saiu do Bolhão.
M. de Lourdes dos Anjos

terça-feira, 13 de julho de 2010

MARIA DE LOURDES DOS ANJOS

A PASTORA ROUXINOL

De Álvaro Barciela, poeta popular do Bonfim

Ainda mal rompia o sol
Já se ouvia um rouxinol
No adro da velha igreja.
Rouxinol era a pastora
De voz meiga e sedutora
A todos fazendo inveja.

De tez morena, tão bela,
E a voz vinda da estrela,
Descia da serra às aldeias.
Com o rebanho ali perto
E o cão sempre desperto,
Afastando as alcateias.

Mas, numa noite sombria,
Enquanto a neve caía
De beleza pura e leve
Por destino ou por azar,
A morte fê-la parar
Num branco lençol de neve.

Hoje o povo desta terra
Com saudade, olha a serra
Antes do nascer do sol
Na esperança de escutar
as cantigas de encantar
Da pastora rouxinol

JORGE VIEIRA


MÃE NATUREZA

Jorge Vieira

Mãe Natureza que despertas, suavemente,
Preenchida de doçura e de encanto;
Envolve-me, como quem de repente
Se alimenta da pureza do teu manto.

Espraia em cada breve anoitecer,
As pétalas silentes da madrugada
E ao som da música faz-me crescer,
Nas páginas mais belas da alvorada.

Mãe Natureza, berço da Eternidade,
Aonde o olhar semeia uma canção;
És dos poetas a universalidade
E a força sublime da Criação.

Mesmo quando a morte surge devagar,
No teu húmus, há cheiro a terra fria
E nem a tristeza, que nos faz chorar,
Consegue dissipar a Alegria.

SILVINO FIGUEIREDO

EMÍLIA PEÑALBA


MARIA ANTÓNIA RIBEIRO

MARIA AUGUSTA NEVES

MARIA RAMAJAL JORGE

FERNANDA CARDOSO declama Viriato da Cruz


"Namoro"

Viriato da Cruz

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

FERNANDA CARDOSO diz EUGÉNIO DE ANDRADE

Já gastámos as palavras

Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

EMÍLIA PEÑALBA

EMÍLIA PEÑALBA

MARIA AUGUSTA NEVES

Constância Néry declama Drumond de Andrade

Procura da Poesia

Carlos Drumond de Andrade

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

SILVINO FIGUEIREDO

LURDES ROCHA

DOMINGOS DA MOTA

MARIA PAULINA SOUSA

JORGE VIEIRA

A MINHA FORÇA

Jorge Vieira

Por vezes, viajo com a amargura,
A latejar dentro do meu peito,
E nem a suave e meiga ternura,
Se afasta à noite do meu leito.

São ondas intensas que me provocam,
Um misto de tristeza e ansiedade;
São forças agrestes que se deslocam,
No fulgor da minha mocidade.

É um espírito que se enleia,
Em dias de turbulência,
E que sem saber tece a teia,
Onde cresce a impaciência.
Mas a força que me reveste,
Suporta a dor e afasta o mal;
É como o vento que sopra de leste,
Às vezes parece um vendaval!

ALBERTO D'ASSUMPÇÃO ENTRE A ASSISTÊNCIA ATENTA

JORGE VIEIRA

INQUIETO

Jorge Vieira

No meu peito, ardem mil lamentos,
Que soluçam nas horas inquietas,
Onde navegam os meus pensamentos,
Em busca das memórias mais secretas.

Trago a sonolência de quem dorme
E a pressa irrequieta de quem corre;
A minha vontade é uma força enorme,
Tem a sede de viver que nunca morre!

Visto o traje colorido do sol poente
E tenho a luz clara do amanhecer,
Quando me levanto, estou presente,
Com quem ousa comigo renascer.

Neste espaço de grande inquietude,
Jamais escondo a minha alegria,
Neste canto de amor em que a virtude,
É a minha eterna sinfonia!

CONSTÂNCIA NERY LÊ O POEMA "D. RITA"

Dona Rita

Maria Olinda Sol

Dona Rita
brinca, sentada no infinito da bruma
onde um cabelo loiro ondulante,
balança na dança do tempo,
e pensa sobre um planalto,
desenhando olhares errantes,
num livro de histórias sentidas!
Princesa galesa
que ficou presa
sem querer
neste druida lugar!

Estranho são olhos azuis
a mordiscar selvagens cerejas
em dias de menires
homenageando deuses
extintos!

Naquela montanha estranha
erguem – se vulcões
nos lumbagos de cavalos
fazendo filas ao longe
para iluminar a cidade!

SARA GARROTE AGRADECE A PRESENÇA DOS POETAS

AUDITÓRIO ATENTO À POESIA NA GALERIA

SARA GARROTE INAUGURA A SUA EXPOSIÇÃO "ENVOLVÊNCIAS GALEGAS"

DANYEL GUERRA FALA SOBRE O POETA PORTUENSE TOMÁS GONZAGA


Tu não verás, Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da minada serra;

não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de ouro
no fundo da bateira;

não verás derrubar os virgens matos,
queimar as capoeiras ainda novas,
servir de adubo à terra a fértil cinza,
lançar os grãos nas covas;

não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo,
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo:

Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumes de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros
e decidir os pleitos.

Enquanto resolver os meus consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História
e os cantos da poesia.

Lerás em alta voz, a imagem bela;
eu, vendo que lhe dás o justo apreço,
gostoso tornarei a ler de novo
o cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
que tens quem leve à mais remota idade
a tua formosura.

Tomás Gonzaga

CARMEN CALVIÑO AUTOGRAFANDO CATÁLOGOS DA SUA EXPOSIÇÃO "NATUREZAS"

DANYEL GUERRA ANUNCIANDO A SUA OBRA SOBBRE TOMÁS GONZAGA


Tomás António Gonzaga nasceu em Miragaia, freguesia da cidade portuguesa do Porto, em prédio hoje devidamente assinalado. Era filho de mãe portuguesa e pai brasileiro. Órfão de mãe no primeiro ano de vida, mudou-se com o pai, magistrado brasileiro, para Pernambuco em 1751, depois para a Bahia, onde estudou no Colégio dos Jesuítas. Em 1761, voltou a Portugal para cursar Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se bacharel em Leis em 1768. Com intenção de lecionar naquela universidade, escreveu a tese Tratado de Direito Natural, no qual enfocava o tema sob o ponto de vista tomista, mas depois trocou as pretensões ao magistério superior pela magistratura. Exerceu o cargo de juiz de fora na cidade de Beja, em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto.
Durante sua permanência em Minas Gerais, escreve Cartas Chilenas, poema satírico em forma de epístolas, uma violenta crítica ao governo colonial. Promovido a desembargador da relação da Bahia em 1786, resolve pedir em casamento Maria Doroteia dois anos depois. O casamento é marcado para o final do mês de maio de 1789. Como era pobre e bem mais velho que ela, sofreu oposição da família da noiva.
Por seu papel na Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira (primeira grande revolta pró-independência do Brasil), trabalhando junto de outros personagens dessa revolta como: Cláudio Manoel da Costa, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto, é acusado de conspiração e preso em 1789, cumprindo sua pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados. Foi, portanto, separado de sua amada, Maria Doroteia. Permanece em reclusão por três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. Em 1792, sua pena é comutada em degredo e o poeta é enviado a costa oriental da África, a fim de cumprir, em Moçambique, a sentença de dez anos.
No mesmo ano é lançada em Lisboa a primeira parte de Marília de Dirceu, com 33 liras (nota-se que não houve participação, portanto, do poeta na edição desse conjunto de liras, e até hoje não se sabe quem teria feito, provavelmente irmãos de maçonaria). No país africano trabalha como advogado e hospeda-se em casa de abastado comerciante de escravos, vindo a se casar em 1793 com a filha dele, Juliana de Sousa Mascarenhas ("pessoa de muitos dotes e poucas letras"),com quem teve dois filhos: Ana Mascarenhas Gonzaga e Alexandre Mascarenhas Gonzaga, vivendo depois disso, durante quinze anos, rico e considerado, até morrer em 1810, acometido por uma grave doença.
(WIKIPÉDIA)

J

UMA ASSISTÊNCIA ATENTA

CONSTÂNCIA NERY ASSINANDO O LIVRO D'HONRA DE CARMEN CALVIÑO

JORGE VIEIRA APRESENTANDO FERNANDA CARDOSO

FERNANDA CARDOSO

Jorge Vieira

SOLIDÃO

Jorge Vieira

A solidão veste-se de amargura,
Quando à noite descansa no seu leito,
E nem a voz dolente da ternura,
Adormece o grito do seu peito.

Estar só, é encontrar num vazio
O eco das palavras agitadas;
É ter no cais do desespero um navio,
Ancorado no mar de águas paradas.

Solidão, testemunha da inquietude,
Que amordaça as almas carenciadas;
É o canto da tristeza onde a virtude,
Tropeça no calor das madrugadas.

CONSTÂNCIA NERY APRESENTANDO POESIA NA GALERIA

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