quarta-feira, 4 de abril de 2012

ONDE ESTÃO AS CASAS?

ONDE ESTÃO AS CASAS?

Onde estão as casas,
onde estão as casas?

Só vejo prisões,
só vejo caixões,
para se morrer,
onde estão as casas
para se viver?

Vejo casarões
onde o corpo vive,
não o pensamento.
Vejo torres altas
de ferro e cimento.
Olho cada uma:
tudo bem cinzento,
cor de cor nenhuma.

Tinham nas janelas
cravos, sardinheiras,
cortinas de cassa.
Quem se lembra delas
e da sua graça?

Tinham nos beirais
ninhos de andorinhas,
pequenos quintais
com dois pés de vinha.

Onde estão as casas,
onde estão as casas?

As portas não eram
forradas de trancas
eram portas boas,
eram portas francas,
portas para amigos,
portas sem ferrolhos,
portas com postigos.

Onde estão as casas,
onde estão as casas?

Vejo só gaiolas,
vejo só prisões,
vejo só quartéis,
só prédios modernos,
pequenos infernos,
passarões sem asas.

Onde estão as casas,
onde estão as casas?


Fernanda de Castro
in “Obras Completas”
lido por Lourdes dos Anjos

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