quinta-feira, 20 de setembro de 2012

PRESIDENTE DA NAÇÃO

PRESIDENTE DA NAÇÃO
 
Quem se candidata a presidente
Deseja o alto cargo da nação ocupar
Mas tem que ter bem presente
No que de si se vai exigir e, ter que dar
 
O presidente de uma nação
É o que tem responsabilidade maior
Tem que ter sempre em atenção
Da justiça que tem de impor
 
Na tomada de poder, tem que jurar
Que defende a Constituição
Sendo esta a lei maior
Que rege toda uma nação
 
Não pode nem deve olhar
Nem a pobres, nem a ricos
Todo o povo vai votar
Quer sejam ou não, políticos
 
Depois de estar em Belém
Só tem que cumprir o seu dever
Não pode favorecer ninguém,
Tenha a cor que tiver
 
A justiça e a igualdade
Tem que estar sempre presente
Fazer cumprir a constitucionalidade
É obrigação do presidente
 
Mara para o lado de Belém
Está lá uma coisa qualquer
Não sei se essa coisa, é alguém
Ou se é alguém, sem poder
 
Se tem poder não o usa
Impávido, assiste a esta desgovernação
Todo o povo o censura e acusa
De estar nas tintas para a legislação
 
Parecendo o parlamento um circo
Com tantos palhaços governamentais
O presidente, permite o ridículo,
Tráfico de influências que nos são fatais
 
Com toda esta fantochada
Estes que perderam a vergonha e a razão
Fazem deste povo, nada vezes nada
Se direito a trabalho e educação
 
No presidente já ninguém acredita
E como em Belém, ele, nada faz
Nós, o povo, queremos que se demita
Colocando lá outro, muito mais capaz
 
Mas amigo e camarada
Unidos contra quem só nos faz mal
Lutemos contra esta canalhada
Dignifiquemos, o nome de Portugal 

António D. Lima

porquê assim…

porquê assim…
 
                Porque não escolher outras formas de dizer? Porquê evitar o discurso racional, organizado e objetivo e deixar-me ir pelos sentidos mais ambíguos?
                E porquê acreditar que um só poema, às vezes uma quadra, apenas, pode substituir a ciência dos tratados e a lógica dos manuais?
                Como é possível encontrar verdades em palavras tão rebeldes, tantas vezes insubmissas… despudoradas, nuas?
                Porque não havemos de aprisionar os loucos, esses cantores do verbo?
                Porque havemos de gastar o tempo em fantasias inúteis de cabeças delirantes? 

                Acaso conheces os sentidos? Os sentidos todos! Esses que nos matam a fome de saber, claro. E os outros… os que precisamos descobrir para dar sentido às nossas vidas.
                Quando os encontrares, procures onde procurares, grita-mos de onde estiveres.
                Pode ser num poema… para eu poder comer. Mastigar avidamente… 

                Apenas porque tenho fome de saber! 

                Ou então… acende as fogueiras no quintal. Amordaça as bocas e apaga as luzes. Mas não cantes! Sobretudo não cantes!
Eduardo Leal

OS CINCO SENTIDOS

OS CINCO SENTIDOS
 
A luz
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
iluminas,
que o teu olhar é sorriso
e luar é o que transborda de ti!
 
É então  que deixo o escuro
e te procuro,
almejando a madrugada
que há de raiar em meu peito.
E desse jeito
há de vir dia claro
e o mundo inteiro florir
em alegria e em cor.
 
Com a natureza desperta,
o amor há de surgir
e deixar-me a porta aberta
da ventura
e eu sentir a loucura
de ser de novo feliz.
 
A música
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
tu entoas,
que a tua voz é canção,
e é música o que te sai da boca!
 
É então com avidez
que a minha alma se aproxima
e, sedenta e louca,
cola os lábios à nascente,
a colher
ainda molhados
os acordes do teu canto,
embrulhados na saliva
que humedece a tua boca!
 
À suave harmonia em apego
que, de tão linda,
é sempre curta,
é sempre pouca
para meu consolo e sossego
 
O manjar
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
sabes bem,
que toda tu és doçura
e mel é o que de ti escorre!
 
Tuas carnes suculentas,
temperadas,
são saborosa iguaria:
rescendem a especiaria
- cravinho, gengibre
ou noz moscada –
noutras paragens usada
em exóticos manjares.
De ti acerco os meus lábios
em cata de apetitoso alimento
- o sustento
deste ser em desatino,
dilacerado
por fomes a reclamar extinção.
Só de pensar no repasto
já sinto a boca molhada
e a saliva na garganta.
 
Contigo, assim, saborosa,
não espanta
que me aumente a sofreguidão
e a gula.
 
O perfume
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
tu perfumas
toda a natureza em redor,
que de ti assomam rosas
a aromar por onde passas!
 
Rosas lindas,
“olerosas”
a atiçar o meu nariz
com aquele odor a baunilha
mais a coco e a maçã.
E do teu cabelo escuro
desprende-se certa fragância
que me traz a terra fresca,
humedecida,
orvalhada
pelo frio da manhã:
terra negra, muito fértil,
bordejada a girassóis
e com canteiros de hortelã,
de alecrim e alfazema.
 
Quero mergulhar no teu cheiro
e sorvê-lo até ao fundo,
inebriar-me,
evadir-me
e franquear outro mundo
 
A carícia
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
tu afagas,
que as tuas mãos lançam beijos
que ao navegar em meu corpo
aliviam suas chagas!
 
Os teus gestos são veludo
do mais macio que há,
são brisa suave,
unguento,
a sanar meu sofrimento
-  bálsamo com as virtudes do chá.
 
E todo eu me descontraio
e me distendo
e me regalo
a fruir esse prazer,
essa delícia
de Céu que de ti me vem
sob forma de carícia.
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
iluminas…
tu entoas… tu perfumas… tu afagas…
e sabes bem!
 
Miguel Leitão
29 Agosto de 2012

COICE

COICE
 
Eu me estou degradando
De corpo e de mente,
Deixando de ser importante,
Diria mesmo que gente!
 
Quero lá saber se me desfaço
E torno alguém infeliz,
Pois se pareço eu no que faço
Não fui eu que me fiz!
 
Me estou degradando
De corpo e de intelecto,
Se me estou desmoronando
Queixai-vos ao meu arquiteto.
Vede a obra que de mim fez;
Um ser muito infeliz,
Deu-me a condição de português
E castigo de ser deste país!
Portugal; lindo país que é,
Onde reina poluta corrupção,
Onde doutor é qualquer zé,
Corrupta quase toda a nação!
 
Estão fazendo dos portugueses
Dóceis cavalgaduras,
Chego a pensar, por vezes,
Que nos ferram ferraduras!
 
De tal modo este estado,
Que quando formos votar,
Em vez do voto cruzado
Devemos relinchar ou zurrar!
 
Me estou degradando
De corpo e de mente,
Deixando de ser importante,
Diria que mesmo gente,
 
E é tão grande o abalo,
E medo desta coisa ser certa,
Que esta poesia já não é de poeta,
Mas já coice de cavalo!

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Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

QUINTESSÊNCIA


QUINTESSÊNCIA
 
Busquei livros antigos, alfarrábios,
do alquimista quis saber os seus segredos.
Tomei em minha mão a bola de cristal
e nela me fundi em cruz axial.
Fui norte, sul, este e oeste,
fui terra, mar, vento e inferno…
Busquei perdido o sol no Oriente
e entre essa gente fui estranho rito.
Na Grécia antiga fui vidente e sábio,
fui o passado, o presente e o futuro;
reinei entre os deuses do Olimpo
sem que ninguém me prestasse vassalagem.
Sou o senhor das estações e da folhagem,
louco pintor, que vai colorindo à toa…
Sou o deus absoluto que tudo domina;
todos me sentem mas ninguém me vê.
Não há solução ou fórmula que me defina,
sou o centro, o elemento quinto.
Nem alquimia ou ciência exacta
sabem ao certo a data em que ao mundo vim.
De todos os mortais sou a ambição;
sonho que conduz a espaços siderais.
Sou a alteridade e a diversidade;
dentro de mim mesmo, sou o outro eu.
Sou a razão e a não razão da sincronia.
Sou aquele que faz suceder à noite o dia.
Mesmo inocente sou réu e culpado
e não há lei ou tribunal que me defenda.
Sou cavalo à solta sem rédeas ou freios.
Sou o próprio símbolo do que é a liberdade.
Ser primordial, sou uno, indiviso.
Pauta musical dum canto impreciso
sou o contraponto de uma sinfonia
sou a quinta essência, o Tempo,
a harmonia e desarmonia.
 
Ilda Regalado

Eugénio e os pintores

Eugénio e os pintores
 
sei de pintores que se inquietavam por
pressentirem uma relação entre a cor e a palavra.
era nos anos sessenta em s. lázaro, quando
a luz entardecia, muita gente se afadigava no
 
lento regresso a casa, as aves recolhiam e
eles sabiam que havia alguém para falar
das águas e das luas e da sombra
das cores, dos gestos entre as hastes e os farrapos
 
do silêncio. seria à mesa do café, numa
sala cheia de livros, num vão de escada a caminho
do atelier que lhe propunham essa
revisita das fontes, das perturbadas melancolias
 
que ele havia de dizer por palavras no papel.
mostravam-lhe os trabalhos, esperando as
justas perífrases, os ritmos em que haviam de rever
a sua fome do real nas artes da pintura.
 
era o cruzar das solidões comovidas: tudo
seria reescrito, portuense, partilhado
com uma densa, irisada exactidão, lá onde
umas pétalas da música começam
 
a partir de uma cor ou de um murmúrio,
de um rosto ou de uma nuvem,
de uma explosão do sol, de uma agonia.
era nos anos sessenta, era em s. lázaro. 

Vasco Graça Moura
lido por David Cardoso

O sono retirou-se do meu corpo


O sono retirou-se do meu corpo e as cigarras
atormentam as minhas noites. Depois de teres
partido, os lençóis da cama são como limos frios
que se agarram à pele. Porém, se me levanto,
não faço mais do que arrastar a solidão pela casa;
 
talvez procure ainda um gesto teu nos braços
do silêncio, como um pombo cego a debicar
as sombras na única praça deserta da cidade —
 
o amor nunca aprendeu a ler nas linhas da mão.
 

Maria do Rosário Pedreira
in «O Canto do Vento dos Ciprestes»,
Gótica, 2001
lido por Idiema

A MANIA E A FRANQUEZA

A MANIA E A FRANQUEZA
 
Há pobres por todo o lado
Vê-se muita gente a pedir
Devido à forma da vida
Para muitos é duro viver…
É quem mais estende a mão
E ouve, não pode ser.
 
É por todo o país fora
Até onde o governo mora
Conhecido por Lisboa…
Que um dia Passos Coelho
Passeava com a esposa.
 
Que vê um cego a pedir
E abeirou-se junto dele
Metendo a mão à carteira
E 50 euros, deu-lhe
 
E o Coelho, resmungou
Do dinheiro dado ao cego
Ao que a esposa respostou
 
O dinheiro dado ao cego
Para ti foi como um sinistro…
Não te lembras
Que à custa deles
É que és o primeiro-ministro. 

José Oliveira Ribeiro

Com seu latino ar de liberdade…

Como eu vivo aqui como criança
E neste mundo vou escrevendo num processo
Catártico até ao enjoo…só no tempo se resolve.
Através de outro tema encontro o que por vezes brota
Em forma de gota de orvalho…Assim…
 
Com seu latino ar de liberdade…
 
Com aparência fina
A criança cresceu
Qual saudade lhe invade
Do muito que morreu
E quem o determina.
Uma grande vontade em
Crisol se construía
Naquela pequena idade e
No sonho de cada dia.
As muralhas dos castelos
Eram altas e não as vencia;
Pertenciam à história…
Que não conhecia.
Na aparência fina da criança
Apareceu a irreverência
Saltando os muros nos campos,
Colheu amoras nas beiras do caminho
No regresso da escola; mesmo assim
Pensava, pensava e comia amoras
Com seu latino ar de liberdade…
Levava a sua sabedoria ao tiracolo
Lá ia pela vereda serpenteada…
Olhava o monte onde sua casa o aguardava.
Esse castelo ele possuía!
Cortava rosas para oferecer à mãe
Recompensa do beijo da chegada e,
Cresceu na bucólica atmosfera do carinho em que vivia.
Não se apercebeu
Que o mundo de montes, rios, vales e
Nuvens sem destino
O podiam levar aos sobressaltos
Dos vilões.
Os dias passaram com noites abruptas,
Com tempestades sem fim,
Como de menino a velho
É um salto…
E agora que vai ser de mim?
 
Luís Pedro Viana
Porto Abril de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

AGARRAR AS LETRAS

AGARRAR AS LETRAS
 
Fazer poesia é agarrar as letras
Que flutuam no espaço do tempo
Trazidas e levadas
Quando lançadas
Ao vento
Por maldade?
Por despeito?
Por desrespeito?
Talvez!
 
Serão estas as letras que formavam
As palavras das promessas não cumpridas
Que com raiva e nojo
Foram lançadas ao vento, desfazendo-se
Do sentido com que as construíram
Sendo agora somente letras mortas?
Talvez!
 
Naturalmente eram as promessas
Feitas pelos abjectos seres
Que nos governam, têm poderes
E rancores
Estes não são os nauseabundos necrófagos
Que têm a morte no seu olhar?
São.
 
Agarremos as letras e construamos
Os alicerces das palavras audazes
Nós somos imensuravelmente capazes
De construir de novo
Igualdade, fraternidade, honestidade
Não somos nós um Olímpico povo?
Somos.
 
Não somos nós um país de temerários
Que descobriu mundos e fomos esculpidos
Em granito duro vindo das entranhas da terra?
Então! Então o porquê de tanta passividade?
Voltemos, voltemos de novo à nossa realidade
Construamos com as letras agarradas
A dignidade da nossa nação
Escrevamos, sim à democracia
Fascismo, NÃO… 

António D. Lima

às vezes primavera

às vezes primavera
 
que não te digo que não tinha
esse tempo antes de abril
certas coisas que alegravam
os meus sonhos de criança
 
era fácil a alegria
simples infantil
tão fácil como a tristeza que corria
dos nossos montes para o mar
para longe
e do mar para outros montes
onde se esquece o olhar
 
era o tempo das partidas
à procura de outra fome
mais fácil de suportar
 
o mundo pequeno que eu era
corria solto pelos campos
vivia nas voltas que dava
solto da guita o pião
e  inventava bicicletas
da tampa de uma garrafa
sem rodas e sem pedais
fazendo das coisas simples
ilusões possíveis mastigáveis
e concretas
 
tudo o resto era somente
mais que tudo fantasia
dores do meu crescimento
num país por descobrir
provavelmente
inventar
 
corríamos como se fosse
todo o mundo a nossa estrada
e em carros de rolamentos
e em jogos de cabra cega
papagaios de papel
na ironia das mentiras
(ou seriam só metáforas)
enchíamos a esperança que havia
do pouco que o país tinha
sempre pouco quase nada
 
certezas?
certezas tinham as mães
(e todos os pais as calavam)
de encher navios de gente
para a boca faminta da guerra
(fundada em mil impérios
de glórias mais vis que a vaidade)
e guardavam junto no seu colo
um país silenciado
um choro baixinho
um fado
e gerações por cumprir
 
no seu colo mutilado
havia o desespero imenso
de um sonho por gritar
na promessa de que um dia
mais que um adeus sussurrado
fosse mesmo o tal regresso
o destino mais feliz
 
um soldado
um soldado em cada um
em cada filho que somos
marioneta de uma guerra sem sentido
que haveria de voltar
voltaria
sem cordas é certo
sem vida
 
neste país tão pequeno
de coração apertado
grande
grande a fome
o medo e o silêncio
grande
grande a história
sempre na volta da mesma fome
das partidas e regressos adiados
 
um país que se entretinha
por dizer
e sempre à espera
que se cumprisse a promessa
do regresso ao que não foi
do regresso da quimera
noite
noite dentro e nevoeiro
sem luz sem palavras
e pensamento amordaçado
 
cada um era o silêncio
a vítima
o grito mudo e lancinante
espancado e aturdido
e era também carrasco
no medo que alastra
como a peste e contamina
empobrece e assassina
 
era inverno
uma só estação dentro de nós
 
e o povo revoltou-se?
como poderia a espera podre
fazer florir aqui
outras flores de cor mais viva?
quem nos daria a senha
o pontapé primeiro
que acendesse em cada um
a revolta e a força
e a vontade de mudança?
 
como dar o salto
em direção ao abismo proclamado
em direção ao risco e à incerteza
negando a fé e o paraíso
a redenção dos pobres
em coisa e espírito
destes obedientes cordeiros
resignados
agradecidos
a um pai tirano
cruel e surdo?
 
a eles que acenderam essa chama
essa candeia fraca ainda
que iluminou caminhos
e apesar das sombras
lugares de medos novos
e de salteadores furtivos
nos ofereceu o norte
a eles eu dedico este poema
 
a eles agradeço
serem armas
outras formas de vencer
outras maneiras
de cantar
e proclamar a liberdade
 
por eles eu prometo agora e sempre
(que a memória de um povo
é esquecimento)
lembrar um dia
em cada dia que viver
que temos pouco ainda
que muito já perdemos
que tanto já gastámos
que tanto nem lembramos
mas somos hoje
sobretudo
liberdade!
 
Eduardo Leal

CIDÁLIA

CIDÁLIA
 
Pões-te cá fora sem pejo
como rubra sardinheira
a incendiar a varanda
e o desejo
de quem te vê a cantar.
 
Toda te expões,
assomando de corpo e alma
à janela escancarada
que tu és e que te mostras
inteira,
a modos que transparente;
e sem medos,
sem qualquer névoa
a ocultar falsas reservas,
a encobrir fingimentos
ou segredos.
 
Fresca, inocente, madura,
abres-te em flor,
que eu bem vejo
tua corola fremente a sorrir
e a espanejar,
levando à loucura quem passa
e dando voltas aos sonhos
de quem de ti se aproxima;
 
mas que afinal te receia
e te rejeita,
e te deixa aí esquecida
- eternamente menina –
a murchar,
ao abandono,
por não crer em paraísos
irreais…
 
A felicidade aí tão perto,
mesmo à mão,
não passa de uma quimera!...
 
- Ilusão de primavera,
conquista fácil demais!
 

Miguel Leitão

PROCURA-ME ENTRE AS PALAVRAS

PROCURA-ME ENTRE AS PALAVRAS
 
Procura-me entre palavras.
Eu ajudo-te
Eu sou aquele,
Que nos seus lábios tem desejos de beijos,
Procura-me.
 
Sou o que dos braços faz abraços,
Procura-me.
 
Sou o que só quer paz e não a guerra que se faz.
Procura-me.
 
Sou o que quer risos de crianças,
Que me dão esperanças,
O que há velhice deseja meiguice,
O que deseja risadas e brilhantes auroras,
Cálidas tardes, brisas suaves
E poentes encantatórios!
Procura-me,
Mas rejeita-se as palavras do ódio,
Da hipocrisia, da corrupção e da inveja.
 
Pega nas palavras de amizade e solidariedade.
Procura-me entre todas as palavras
Escondidas entre a poluição da civilização!
 
Procura-me, como pescador de pérolas.
Mergulha fundo do meu mundo,
As palavras são meu encanto!
 
Por favor,
Quando encontrares minhas palavras
Cobre-me com uma: com a palavra amor.
Mesmo que doutras insuficiente,
Com ela terei calor.
Dar-te-ei um beijo… quente
E direi… obrigado,… amor.
Obrigado, por me teres encontrado!
 

Silvino Figueiredo
(Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)