Pilar López Román
in:http://artistasdacorunhanoporto.blogspot.com/
A PEQUENA PRAÇA
de Sophia de Mello Breyner Andresen
A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça,
Naquele Outono em que a tua morte se organizava
meticulosamente.
Eu agarrava-me à praça; porque tu amavas
A humanidade humilde e nostalgia das pequenas lojas
Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas.
Eu procurava tornar-me tu; porque tu ias morrer
E a vida toda, deixava ali de ser a minha.
Eu procurava sorrir como tu sorrias,
Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco
E à mulher sem pernas que vendia violetas.
Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti
Eu acendia velas em todos os altares
Das igrejas que ficam no canto desta praça
Pois mal abri os olhos e vi foi para ler
A vocação do eterno escrita no teu rosto.
Eu convocava as ruas, os lugares, as gentes
Que foram as testemunhas do teu rosto
Para que eles te chamassem para que eles desfizessem
O tecido que a morte entrelaçava em ti.
Sem comentários:
Enviar um comentário