Geraldina Rayo
BALADA PARA UMA MULHER
Reparem quando ela passa.
Beija os filhos no olhar!
Esta palavra ternura
quem é que a soube inventar?
Lá vai ela. Como tem
os lábios cor de romã!
Ela vai. Mas quem bebeu
nos seus seios a manhã?
Tem ancas de sofrimento.
É simples como a pobreza.
Nos cabelos dorme o vento
com a palavra tristeza.
Lá vai ela. Minha dor.
Égua de prata a correr!
Vai a fingir que o amor
também se pode vender.
Lá vai. Lá vai. E que importa
a dor que me nasce a rodos?
Ela vai de porta em porta
vender um pouco de todos.
Ela vai. Como se fosse
minha irmã ou minha mãe.
É como o vinho mais doce
e mais amargo também.
Lá vai ela. Minha dor.
Égua de prata. Luar.
Vai a fingir que o amor
também se pode pagar.
Lá vai. Lá vai. E no peito
rompe uma flor de ciúme.
A raiva cresce no leito
entre lençóis de azedume.
Ela vai. é como a luta
de um homem contra a desgraça.
Chamem-lhe flor, mãe ou puta
mas não riam quando passa.
Lá vai ela. Meu amor.
Égua de prata a morrer!
Vai a fingir que esta dor
também se pode esquecer.
Joaquim Pessoa
dito por Lourdes dos Anjos
Sem comentários:
Enviar um comentário