sábado, 13 de novembro de 2010

NÃO HÁ VAGAS

JORGE MURILLO TORRICO


NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz e o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
  está fechado:
  “não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

          O poema, senhores,
          não fede
          nem cheira

Ferreira Gullar (Brasil)
dito por Eduardo Roseira

Sem comentários:

Enviar um comentário