quinta-feira, 20 de outubro de 2011

À DERIVA



À DERIVA

Nunca fui navio,
Apenas me deram este casco
Com que ando à deriva
Com rombos na proa,
Na popa,
No porão, que é meu coração,
Rombos a bombordo,
A estibordo
E sou levado por ventos em toda a direcção,
Pelas ondas,
Aporto onde calhar,
Porque não tenho casa de máquinas,
Nem mastros com altas velas
Para bom navegar!
Não,
Não me podem chamar navio,
Sou só casca de noz
A navegar num mar de terra
Onde no seu pó se enterra.

Se me quereis chamar navio,
Então pegai num casco e num mastro,
Içai uma vela
E acendam um pavio.
Então,
Talvez possais pôr-me a navegar
No mar da vossa imaginação,
À deriva!
Sem definido porto para aportar!
               Silvino Figueiredo
         (figas de saint Pierre de lá-buraque)

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