a quem os outros chamam poetas?
Saliva é tinta
que escorre e pinta
folhas brancas com letras: mas
são os outros que das letras fazem
os sons; e imaginam (nas letras)
imagens que são
sons sem letras!
E dizemos: morte. Cantando
a vida. Norte. E o caminho
são todos os lados e todas as estradas.
Pontos e vírgulas são nossas Fadas.
E dizemos: tudo. E parece nada!
Dizem-nos: para quê?!...
Porque somos águas, assustamos.
Com tormentas.
Muitas. Quinhentas.
E dizemos: cores. Para que não vejam
o que lhes dizemos.
Escrevemos: sexo. Para que sintam
Amor. Sem ele. Também.
Não, não inventamos estrelas: apenas lembramos
que elas estão lá.
E dor? Ai!, é muito
mais que isso!
Porque falamos, afinal, se ninguém nos quer ouvir?
Gritamos: não digo mais!
E então, só então, têm saudade.
De nós.
Luís Nogueira
lido por Eduardo Roseira
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