sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

De que falamos nós, afinal?

José González Collado
De que falamos, afinal? Nós
a quem os outros chamam poetas?

Saliva é tinta
que escorre e pinta
folhas brancas com letras: mas
são os outros que das letras fazem
os sons; e imaginam (nas letras)
imagens que são
sons sem letras!

E dizemos: morte. Cantando
a vida. Norte. E o caminho
são todos os lados e todas as estradas.
Pontos e vírgulas são nossas Fadas.
E dizemos: tudo. E parece nada!

Dizem-nos: para quê?!...
Porque somos águas, assustamos.
Com tormentas.
Muitas. Quinhentas.
E dizemos: cores. Para que não vejam
o que lhes dizemos.

Escrevemos: sexo. Para que sintam
Amor. Sem ele. Também.
Não, não inventamos estrelas: apenas lembramos
que elas estão lá.
E dor? Ai!, é muito
mais que isso!

Porque falamos, afinal, se ninguém nos quer ouvir?

Gritamos: não digo mais!
E então, só então, têm saudade.

De nós.

Luís Nogueira
lido por Eduardo Roseira

Sem comentários:

Enviar um comentário