entre o abismo da fome e a vertigem da abundância
és raiz entrelaçada num destilado afago de ternura
por mãos calosas de enxadas e arados com esperança
maçã calcada pela lucidez e loucura
e na distância do empréstimo que temos
em ti flutua com sentido o tempo
o Verbo te devolve por completo
tudo que alimentas com amor neste deserto.
somos rouxinóis e andorinhas de inquietação
sangramos o teu corpo para colher o pão
e quando deixamos a tábua onde nos apoiamos
não é de joelhos que a ti chegamos
já com olhos de fresco barro
vegetais adormecidos e frios
seremos míseras migalhas.
alimento. alimento. alimento
dos vermes que vivem nas tuas entranhas.
Teresa Gonçalves
in "Pleno Verbo"
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