sexta-feira, 26 de agosto de 2011

SOMBRA



SOMBRA

Não fora o sol, eu não tinha
esta sombra que me espreita…
me adelgaça numa linha
e comigo no chão se deita.
Sombra que me dualiza,
minha irmã gémea chinesa,
que me quer, me tiraniza,
e me segue com presteza.

Quando a olho, me perturba
os contornos que hoje tem;
ela envelhece, ela curva,
vacila como eu também!...
É triste, seu manto é negro,
e à noite dorme comigo
presa no meu aconchego,
ouvindo os versos que digo.

Quando o zénite acontece
a sombra em mim se conjuga;
a natureza elanguesce,
que aquela luz subjuga!...
E a sombra que se escondeu,
logo em mim se revigora!
Quantas mortes já sofreu
na ligeireza da hora?

Às vezes o sol se esquiva
num recato absoluto;
fica-me a sombra cativa
meu corpo veste de luto…
Temo que, lá no infinito,
num cataclismo enorme,
o tempo seja finito
e a minha sombra não torne!

in “Castelo de Legos”
Maria de Lourdes Martins

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