MEU FILHO
A rasgar o meu silêncio há gritos;
há lágrimas no alvar do meu sorriso…
ficam-me os olhos d’angústia, aflitos,
descrentes do longínquo paraíso.
Sou arca velha guardando dor antiga,
nela vou tropeçando cegamente,
já não recordo a linda rapariga,
perdido o brilho de antigamente.
Morreu-me o coração; só trago um nó
dentro do peito; olhando pró meu filho,
com a idade a transformar-se em pó,
quando quebrar o elo deste atilho,
quem vai senti-lo, amá-lo e proteger?
Passo o resto da vida a matutar:
somos dois corpos e um só, a entender;
e temo, porque um dia o vou deixar!
Irei chorando ainda nos meus versos,
que saíram de mim, sangrando de raiz,
como os rios que correm tão dispersos,
serpenteando por todo o meu País,
tal como o fogo e, nas labaredas,
que trazidas no fogacho do destino,
serei uma faúlha entre veredas,
pra acalentar no frio o meu menino!
Agosto.2011
Maria de Lourdes Martins
lido por Leonor Reis
Sem comentários:
Enviar um comentário