quarta-feira, 17 de novembro de 2010

GARGALHADA

TERESA JOAQUINA TELES GRAÇA


GARGALHADA

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trémulas...

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje esta música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

Cecília Meireles
in 'Viagem'
Recitado por Eduardo Roseira

3 comentários:

  1. DESTA VEZ OS AUTORES ESCOLHIDOS FORAM DE UMA ATUALIDADE E QUALIDADE FORA DO COMUM. OBRIGADA DR.AGOSTINHO COSTA PELO CARINHO COM QUE TRATA A POESIA

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  2. Sou um ougado por todas as artes:trabalho ao som da música; desleixadamente gosto de dar o meu passo de dança; a pintura, ah, a pintura!; e a escultura!; na minha adolescência cheguei a pisar palcos em peças de teatro; à cabeceira tenho sempre tomos de literatura; com as primeiras chuvas começo a frequentar as salas de cinema; et altera!
    Por isso é já com ansiedade que aguardo o dia da Poesia na Galeria e imploro aos deuses que não deixe esmorecer a boa vontade dos poetas na esperança de que este evento perdure ad aeternum.

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  3. Caro Dr. Agostinho e equipa da Galeria Vieira Portuense, um Bem Haja pela vossa abertura à conjugação das mais diversas artes que se irmanam entre si em perfeita harmonia.

    eduardo roseira/Palavras Vivas

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