quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

AFINIDADES


AFINIDADES

Caiu chuva ‘inda agora’
caiu mansa, não se ouvia…
como a dor que me devora
e me arrasta cada dia.
Por detrás do vidro parece
enorme natureza morta,
quase lhe rezo uma prece,
olhando-a da minha porta!

Toda a dor tem seu tamanho!
Mas nem todas cabem no peito;
outras são como o rebanho
que à noite conto no leito,
para a dor me deixar dormir…
Quisera ser como a chuva
que, não me querendo afligir,
cai em silêncio difusa…

Ai que força cruel nos une!
Ó natureza, minha irmã,
já o meu coração presume
que não voltarás amanhã!
Porém, se vieres, por favor
vê, eu também choro baixinho,
e que a força da nossa dor
nos leve assim de mansinho…

nos leve a dar uma volta
por todo esse mundo além.
E deixamos nossa revolta
onde não há mais ninguém;
resta somente o silêncio
que célere, nos vem receber
com flores e muito incenso
e nos consegue adormecer.

Maria de Lourdes Martins
Dezembro 2011

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