sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O MOSTRENGO


O MOSTRENGO
 
O mostrengo que estava a levedar
Na noite que trouxe ergueu-se a voar;
À roda de nós voou de novo,
Voou de novo a chiar,
E disse: «Quem ousou acreditar
Que podia ser livre de pensamento,
Que era possível viver feliz?»
E um de nós disse, em lamento:
«Quem ama este país!»
 
«De quem é a esperança onde me roço?
E a liberdade que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou de novo,
De novo rodou imundo e grosso.
«Quem desafia o que só eu posso,
De secar os sonhos destas gentes
De fazer um povo infeliz?»
E um de nós disse, entre dentes:
«Quem ama este país!»
 
Falou de novo, falou por nós,
De novo se ouvia a sua voz,
E disse, forte e sem tremer, de novo:
«Estes que gritam não estão sós:
É um povo, uma só voz;
E mais que tu, que me amedrontas
E matas o direito a ser feliz,
Manda a vontade, de quem afrontas,
Quem ama este país!» 

Eduardo Leal

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