O
MOSTRENGO
O
mostrengo que estava a levedar
Na noite
que trouxe ergueu-se a voar;
À roda
de nós voou de novo,
Voou de
novo a chiar,
E disse:
«Quem ousou acreditar
Que
podia ser livre de pensamento,
Que era
possível viver feliz?»
E um de
nós disse, em lamento:
«Quem
ama este país!»
«De quem
é a esperança onde me roço?
E a
liberdade que vejo e ouço?»
Disse o
mostrengo, e rodou de novo,
De novo
rodou imundo e grosso.
«Quem
desafia o que só eu posso,
De secar
os sonhos destas gentes
De fazer
um povo infeliz?»
E um de
nós disse, entre dentes:
«Quem
ama este país!»
Falou de
novo, falou por nós,
De novo
se ouvia a sua voz,
E disse,
forte e sem tremer, de novo:
«Estes
que gritam não estão sós:
É um
povo, uma só voz;
E mais
que tu, que me amedrontas
E matas
o direito a ser feliz,
Manda a
vontade, de quem afrontas,
Quem ama
este país!»
Eduardo
Leal
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