terça-feira, 3 de janeiro de 2012

TODOS DIFERENTES


TODOS DIFERENTES

Nascemos todos iguais
nus
mas depois, bem… depois
as contas bancárias
tornam-nos todos diferentes.
Uns ficam mais azedos
outros, crescem para cima, para os lados
os livres andam sempre tesos
os adoradores de deuses, constipados.
Nascemos todos iguais
nascemos nus…
Óh! Mas cuidado. Muito cuidado!
quando nos vestem a roupinha vê-se logo
quem vai ser o maltratado
e quem vai mandar na gente
quem vai montar o cavalo
e quem vai parecer burro.
Nascemos todos iguais
nem uma tanga trazemos.
Só depois, muito depois
é que nós os conhecemos
pela foto nos Jornais
entrevistas nas centrais
de braço dado às coristas
que até se julgam artistas
ou poetas fenomenais.
Mas nascemos todos por baixo
levamos uma palmada
e desatamos aos gritos
mas, depois, alguns, depois
vêm fazer-nos gritar
chorar e sofrer, aflitos
porque não demos com a porta
e fomos contra a parede
não soubemos lançar a rede
e ao fim de uns anos de pesca
apanhamos sempre uma bota…
E, no entanto, nascemos todos iguais
que o sarilho, o sarilho, vem depois
uns ficam no ATL, outros de prof. escolhida
Compram-lhes roupa à medida
e o popó é todo dele…
Com sete anos no colégio
já sabem tudo da vida
quem vai ser muito importante
com noiva em Paris vestida
doutorado pelo carnedo
nesse reino em que reinante
como na sorte o sortudo…
Uns vão vestir-se de ouro
e os outros andam de andrajos
uns tratados de excelência
e os outros são “aqueles gajos”…

Nascemos todos iguais
Nus
mas, depois,
bem…depois,
as contas bancárias
tornam-nos todos diferentes…


Fernando Morais

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