terça-feira, 3 de maio de 2011

A CRISE SURREALISTA

A CRISE SURREALISTA

A minha poesia explica quase com clareza
a forma de mudança de vida do nosso povo.
Poesia da beleza do ideal
roteiro dos corações acordados
guia turístico para alcance da verdade
nas relações humanas
e mesmo assim ninguém quer esses versos
ninguém se veste com estas cores
ninguém aprova estas ideias
poucos entendem a minha paz
menos ainda a minha guerra
e a violência antiga dos meus desejos
é a mordedura que há nos beijos
Espalho água fresca nos montes da canícula
trago pedacinhos de gelo para as tardes de Agosto
e ninguém quer este meu diálogo
estes murros abertos contra baionetas afiadas
e ainda me faltam tantas luas
tantas noites de chuva e de trovão
tantos acordares na morfologia do perdão
para alcançar quem ainda passa na rua
e nem um só pergunta pela inteligência
quando ela se engana no nº da porta
e quer à viva força entrar no palacete
do dono da cidade.
Tantos poetas vão apontar as suas armas
ao próximo ditador eleito
mas nenhum dispara com medo de acordar
o instinto da morte
que trazemos no forno da gabardine.
Hoje vendemos corpos de crianças
para os lares da terceira idade não sofrem a crise
e apontamos os canos das metralhadoras
aos polícias sem farda por causa da crise
As nossas companheiras vêm quase nuas
fazer curativos aos baleados
nos corredores do hospital por causa da crise
e já faltam corpos no cemitério da Arrábida… por causa da crise
na rua do Bonjardim instalam-se os primeiros postos
de tiro ao alvo,
quem ficar de pé depois de trinta disparos
receberá uma isca de bacalhau
e meio copo de tinto.
O prometido fogo de artifício na Lapa e em S. Bento
está prestes a começar
e as lojas de compra e venda de ouro de 17 quilates
comprometem-se a vender o nosso país aos ingleses
que são os mais calados nesta crise.
Os corpos arrefecidos já seguiram para as caves
das Juntas de freguesia.

Fernando Morais
lido por Eduardo Roseira

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