Ó gente da minha infância
que não vieste comigo…
e ficaste na distância,
na lonjura,
lá onde te abandonei.
Sempre fiel a ti próprio,
tiveste uma vida feliz,
apesar de existência dura
e primária condição:
dois palmos de terra apenas,
um punhado de sementes
e uma mão
que era a tua arma, a tua fartura,
o teu sustento, o ganha-pão!
Também tinhas coração
que era para dares aos filhos;
e uma alma muito grande
que te elevava do chão
a veres o mundo por cima,
e fazeres
da tua vida uma festa
e da Aldeia… uma menina!
Menina que apaparicavas
e enfeitavas
com o que tinhas de melhor,
que era pouco:
flores plantadas por aí,
pelas esquinas,
pelos muros das vielas,
pelas portas
e janelas,
pelas bermas dos quintais!
E amor, mas muito amor...
… e nada mais!
Miguel Leitão
in "O tempo e as coisas"
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