OS CINCO
SENTIDOS
A luz
Quando
abres o teu rosto, tu não falas,
iluminas,
que o
teu olhar é sorriso
e luar é
o que transborda de ti!
É então que deixo o escuro
e te
procuro,
almejando
a madrugada
que há
de raiar em meu peito.
E desse
jeito
há de
vir dia claro
e o
mundo inteiro florir
em
alegria e em cor.
Com a
natureza desperta,
o amor
há de surgir
e
deixar-me a porta aberta
da
ventura
e eu
sentir a loucura
de ser
de novo feliz.
A
música
Quando
abres o teu rosto, tu não falas,
tu
entoas,
que a
tua voz é canção,
e é
música o que te sai da boca!
É então
com avidez
que a
minha alma se aproxima
e, sedenta
e louca,
cola os
lábios à nascente,
a colher
ainda
molhados
os
acordes do teu canto,
embrulhados
na saliva
que
humedece a tua boca!
À suave
harmonia em apego
que, de
tão linda,
é sempre
curta,
é sempre
pouca
para meu
consolo e sossego
O
manjar
Quando
abres o teu rosto, tu não falas,
sabes
bem,
que toda
tu és doçura
e mel é
o que de ti escorre!
Tuas
carnes suculentas,
temperadas,
são
saborosa iguaria:
rescendem
a especiaria
-
cravinho, gengibre
ou noz
moscada –
noutras
paragens usada
em
exóticos manjares.
De ti
acerco os meus lábios
em cata
de apetitoso alimento
- o
sustento
deste
ser em desatino,
dilacerado
por
fomes a reclamar extinção.
Só de pensar
no repasto
já sinto
a boca molhada
e a
saliva na garganta.
Contigo,
assim, saborosa,
não
espanta
que me aumente
a sofreguidão
e a
gula.
O
perfume
Quando
abres o teu rosto, tu não falas,
tu
perfumas
toda a
natureza em redor,
que de
ti assomam rosas
a aromar
por onde passas!
Rosas
lindas,
“olerosas”
a atiçar
o meu nariz
com
aquele odor a baunilha
mais a
coco e a maçã.
E do teu
cabelo escuro
desprende-se
certa fragância
que me
traz a terra fresca,
humedecida,
orvalhada
pelo
frio da manhã:
terra
negra, muito fértil,
bordejada
a girassóis
e com
canteiros de hortelã,
de
alecrim e alfazema.
Quero
mergulhar no teu cheiro
e
sorvê-lo até ao fundo,
inebriar-me,
evadir-me
e
franquear outro mundo
A
carícia
Quando abres
o teu rosto, tu não falas,
tu
afagas,
que as
tuas mãos lançam beijos
que ao
navegar em meu corpo
aliviam
suas chagas!
Os teus
gestos são veludo
do mais
macio que há,
são
brisa suave,
unguento,
a sanar
meu sofrimento
- bálsamo com as virtudes do chá.
E todo
eu me descontraio
e me
distendo
e me
regalo
a fruir
esse prazer,
essa
delícia
de Céu
que de ti me vem
sob
forma de carícia.
Quando
abres o teu rosto, tu não falas,
iluminas…
tu
entoas… tu perfumas… tu afagas…
e sabes
bem!
Miguel
Leitão
29
Agosto de 2012
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