quinta-feira, 20 de setembro de 2012

OS CINCO SENTIDOS

OS CINCO SENTIDOS
 
A luz
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
iluminas,
que o teu olhar é sorriso
e luar é o que transborda de ti!
 
É então  que deixo o escuro
e te procuro,
almejando a madrugada
que há de raiar em meu peito.
E desse jeito
há de vir dia claro
e o mundo inteiro florir
em alegria e em cor.
 
Com a natureza desperta,
o amor há de surgir
e deixar-me a porta aberta
da ventura
e eu sentir a loucura
de ser de novo feliz.
 
A música
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
tu entoas,
que a tua voz é canção,
e é música o que te sai da boca!
 
É então com avidez
que a minha alma se aproxima
e, sedenta e louca,
cola os lábios à nascente,
a colher
ainda molhados
os acordes do teu canto,
embrulhados na saliva
que humedece a tua boca!
 
À suave harmonia em apego
que, de tão linda,
é sempre curta,
é sempre pouca
para meu consolo e sossego
 
O manjar
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
sabes bem,
que toda tu és doçura
e mel é o que de ti escorre!
 
Tuas carnes suculentas,
temperadas,
são saborosa iguaria:
rescendem a especiaria
- cravinho, gengibre
ou noz moscada –
noutras paragens usada
em exóticos manjares.
De ti acerco os meus lábios
em cata de apetitoso alimento
- o sustento
deste ser em desatino,
dilacerado
por fomes a reclamar extinção.
Só de pensar no repasto
já sinto a boca molhada
e a saliva na garganta.
 
Contigo, assim, saborosa,
não espanta
que me aumente a sofreguidão
e a gula.
 
O perfume
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
tu perfumas
toda a natureza em redor,
que de ti assomam rosas
a aromar por onde passas!
 
Rosas lindas,
“olerosas”
a atiçar o meu nariz
com aquele odor a baunilha
mais a coco e a maçã.
E do teu cabelo escuro
desprende-se certa fragância
que me traz a terra fresca,
humedecida,
orvalhada
pelo frio da manhã:
terra negra, muito fértil,
bordejada a girassóis
e com canteiros de hortelã,
de alecrim e alfazema.
 
Quero mergulhar no teu cheiro
e sorvê-lo até ao fundo,
inebriar-me,
evadir-me
e franquear outro mundo
 
A carícia
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
tu afagas,
que as tuas mãos lançam beijos
que ao navegar em meu corpo
aliviam suas chagas!
 
Os teus gestos são veludo
do mais macio que há,
são brisa suave,
unguento,
a sanar meu sofrimento
-  bálsamo com as virtudes do chá.
 
E todo eu me descontraio
e me distendo
e me regalo
a fruir esse prazer,
essa delícia
de Céu que de ti me vem
sob forma de carícia.
 
Quando abres o teu rosto, tu não falas,
iluminas…
tu entoas… tu perfumas… tu afagas…
e sabes bem!
 
Miguel Leitão
29 Agosto de 2012

Sem comentários:

Enviar um comentário