PARA O NORTE…
PARA O NORTE!...
A bússola do meu destino
Não quer nada com o Sul
Deste país pequenino,
Onde o mar é muito azul
- Onde as águas, quentes, mansas,
São o Céu para as crianças.
Tem apenas um desejo:
- Que bússola caprichosa!
Ir um dia ao Alentejo
E parar em Vila Viçosa,
Procurar certa janela
Da rua do Angerino,
Onde nasceu Florbela
- A do trágico destino.
E na doce claridade
Do Sol que se está a pôr,
Procurar “Soror Saudade”
Ou “Dona Charneca em Flor”.
A bússola do meu Destino
Aponta-me sempre o Norte
Deste país pequenino
- Que já foi rico e foi forte –
De mares (loucos, bravios)
Que me causam arrepios.
E cá vou com o farnel
De saia muito rodada
Ao lado do meu Manel,
Cantando alto na estrada.
Nesta jornada que faço
Quero parar no caminho
E procurar no espaço
O Poeta de Belinho,
Rezar as “Quatro Estações”
E com a alma lavada
- De arrecadas e cordões –
Cantar de novo na estrada:
- “Para o norte, para o norte,
Que o norte é o meu caminho.
E a minha estrela da sorte
Está no norte…
Está no Minho”.
A bússola do meu Destino
Quer que eu vá, estrada acima,
Para o norte… Para o Minho,
Para Viana do Lima,
Que reze em Santa Luzia
E à Senhora d’ Agonia.
Viana, que linda és
Na serra reclinada.
Com chinelinhas nos pés
E saia muito bordada,
Cheiras a rio e a mar
E à mimosa florida…
- Quem me dera cá ficar
Toda a vida…
Toda a vida!...
Mas a bússola da sorte
Diz-me sempre:
“Mais p’ra o norte”!
E de tropeço em tropeço
E de recife em recife,
Hei-de cantar no Carreço,
Hei-de bailar em Afife.
Faroleiro, faroleiro!
Alumia o meu caminho,
Que eu tenho que achar primeiro
A sombra do “Fandangueiro”
Que dorme em lençol de linho.
A bússola do meu Destino
- Mas que coisa tão estranha! –
Para trás ficando o Minho,
Quer que eu vá até Espanha!
- Para as Rias, para as fontes
- Para o alto… para os montes!
E a bússola do meu Destino
De “Vieiras” no chapéu,
Cajado do peregrino,
Leva o meu corpo, o meu Eu…
… Nas asas do pensamento
Ao Norte que me dá alento.
- Bússola do meu coração!
Por que estranha fantasia
Queres que eu vá até Padron,
Onde morreu Rosalia?
E porque – louca criança! –
Sem pensares nos meus desaires,
Queres que eu vá a “La Matanza”
Respirar
“Airiños aires?...
“Airiños, airiños aires…”
E o meu pobre coração,
Tendo chorado em Padron
Novamente se comove
Porque
“Chove de mansinho
- Porque de mansinho chove –
polas bandas de Laiño
polas bandas de Lestrove”.
Já tenho um pé chagado
- São Tiago me conforte! –
Já perdi o meu cajado,
Já não sei onde há mais Norte…
E de recife em recife,
E de tropeço em tropeço,
Não bailarei em Afife
Nem cantarei em Carreço.
Porque a bússola da sorte
Deixou-me só no caminho
- Ficou para trás no Minho
Para o Norte…
Para o Norte…
São quatro horas da tarde.
A chuva cai na vidraça.
No lume, uma acha arde
Porque o frio me trespassa.
Tenho esquecidos na mão
A agulha e o dedal.
A rádio toca Chopin
- Música que me faz mal.
Um chá torna-me feliz!
No lume brilha uma brasa
- Que grande viagem fiz
Sem sair de minha casa!...
Esmeralda Tavares de Carvalho
declamado por Alzira Santos
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