quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NOITE IGUALITÁRIA

NOITE IGUALITÁRIA

Eram três da madrugada,
Eu no meu quarto,
Naquela noite cerrada
Em pijama, deitado na cama,
Mas dormir? Dormir nada!
Então pensei que a noite tudo iguala:
Iguala o magala ao general,
O padre ao cardeal,
Na noite, réu e juiz têm igual nariz!
A noite não distingue ricos e pobres,
Quem têm medalhas dos canalhas,
Quem sobe e quem desce,
A noite tudo iguala quando sua sombra
Sobre tudo cresce,
E tudo o que no dia passa
À noite passa a passado
E passa ao escuro do nada,
Nem se vê cortinas floridas
Nas persianas corridas,
Nem o pijama que vestimos!
Nem outros vêem o que sentimos!
A culpa é do sol,
Que tudo ilumina,
Mas, ao bater num homem,
De frente
Faz sombra a quem está atrás,
Que também é gente!

O sol não é igual para todos,
Com ele faz-se contrastes,
Entre todos os trastes
Distingue-se um magala dum general
Um padre dum cardeal
Um governante do governado
O bem do mal
Os bons dos canalhas,
No peito vê-se o brilho das jóias
E das medalhas,
Mas, quando a noite cai tudo fica igual;
Tudo nivelado pelo escuro,
Não se vêem boas e más acções
E nem a vista vê condecorações!
Na noite é um facto que reina o tacto!
Mas é bom sentirmo-nos bem na noite;
Bom treino,
Porque, ao fim e ao cabo,
O Homem na eterna sombra tomba!
O problema, ao sol,
À luz do dia, é:
O Homem saber andar de pé!
                                       
Figas de Saint Pierre de lá-buraque

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