POEMA MALOGRADO
Gravita o poema à roda da dor
que o inspira, o alimenta e o informa.
A dor está cá, arroxeada,
enegrecida,
afincada
e grande.
Tão grande,
que não é fácil
a alma dar-lhe abrigo em suas dobras.
Suportá-las, quanto custa!
E o poema não sai.
Talvez não seja a dose justa.
Talvez a dor seja demais
e, por ser tanta,
bloqueie todas as fendas
de onde deviam vir, a desfilar,
as tristes palavras sofridas,
mas certas,
que a haviam de cantar.
E o poema permanece cavo,
fundo,
abafado,
prenunciado apenas no sentir,
não no dizer.
Abortado,
não lhe é dado vir ao mundo.
É um poema sem ter corpo,
só com alma,
sem a carne das palavras
para o vestir e lhe dar cor.
Miguel Leitão
in "O tempo e as coisas"
Este poema do LEITÃO é muito lindo.Se a Daniela tiver oportunidade, por favor, faça uma fotocópia com letra grandinha para eu o dizer numa sessão próxima. Um beijo grande.
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