quinta-feira, 24 de maio de 2012

COLINA


COLINA

És a colina que fica presa ao meu olhar feito de assombro.
Os teus olhos
feitos de rochas pregadas no chão
fixam os meus.
Os teus cabelos
feitos de urze e de giesta
são a carícia da minha face.
As tuas mãos
feitas de árvores
são a pele que percorro e que me acalma.
As grutas que te penetram
são os ouvidos dos meus segredos,
dos meus sorrisos.
A tua boca
rasga-se na encosta
que sorri nos regatos
que te cantam na espuma
e no borbulhar das nascentes.
E beijo a tua boca
quando me inclino para saborear a tua água
que rebenta num repuxo,
das entranhas da terra.
E escorre pelos meus lábios em fio,
pura e cristalina,
caindo em gotas no meu peito.
E sorrio por este beijo tão belo,
tão nosso!

A terra e o meu corpo.
A água e eu!
E o meu corpo deita-se
na terra quente,
repousando o meu eu
na flor rosada do rosmaninho.
O sol cai.
Caem os olhos da colina juntamente
com os meus.
Durmo de mãos dadas com a urze e a giesta.
Não há espaço
porque não há
limites.
Não existe tempo,
porque não tenho
todo o tempo!
Existe a música das cigarras no espaço
e que vai enfeitando o meu tempo,
deleitando e aquietando
a minha alma.
É aqui… onde tenho todo o tempo do tempo,
no tempo que me pertence!
O agora,
é o tempo que existe em mim!

Manuela Barroso
in “Inquietudes”
lido por Alzira Santos

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