sábado, 5 de maio de 2012

PROVETA


PROVETA


Para mim é comparável
fechar versos na gaveta,
à ideia formidável
de fazer bebés-proveta.

Fica o bebé de infusão
sem a graça do sentir…
também os versos estão
numa gaveta a dormir…

Podem ser reinventados,
quer o verso ou o bebé,
criá-los, é liberdade,
gostar ou não, também é.

Portanto, hoje resolvi,
trazer versos pra arejar,
mantê-los presos ali
pra que valera os criar?

Se ninguém deles gostar,
se não vos derem contente,
meus versos podem rasgar
e pôr as letras ao vento…

Talvez um bebé-proveta,
já feito um homem maduro,
ao vê-los numa valeta
os leve a porto seguro…
E pra esquecer os cadilhos
que sofreu lá na proveta,
venha a gostar destes filhos
feitos côa minha caneta.

Às vezes, a criação
é demais complicada…
outras vezes, querendo ou não,
vida eleita é confirmada!

Mas, ó caneta bailarina,
que danças rima a preceito,
no labor da tua sina
nem sempre o verso é perfeito…

Mas não há proveta no mundo
que conceba, num momento,
um poema mais profundo
do que o nosso pensamento!

Maria de Lourdes Martins
in "Castelo de Legos"

1 comentário:

  1. Um poema tem a sua proveta
    na nossa cabeça;
    útero do seu desenvolvimento,
    quando nasce chama-se pensameno!
    Figas

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