quinta-feira, 21 de junho de 2012

RIMANÇO DO PAÍS DAS UVAS

RIMANÇO DO PAÍS DAS UVAS

D. Mello e Mello e mais Mello
deu dois tiros na coutada.
“- Escapei por um cabelo!”
disse a perdiz desasada.

Dona Chuva miudinha
que caía em telha vã
viu a Bruxa malvadinha
envenenar a maça.

Diz o rei: “- Abaixo o povo!”
Diz o povo: “- Abaixo o rei!”
Lá vem D. Fuas de novo
fazer respeitar a lei.

Traz uma trança comprida,
toda atada em noz moscada.
Grita: “- Antes nós do que nada…
Quem puder que salve a vida!”

E os lobos que andam à solta
toda a noite a dar ao dente
descem da serra e na volta
comem os olhos à gente.

Armandinho vai à tropa
aprender a disparar
para salvara  Europa
de quem a quer devorar.

Com achas de pessegueiro
Julião acende o lume
para pôr no fogareiro
o caldeirão do ciúme

Fecham as portas abertas
os cruzados nas campanhas.
Almoçam a horas certas.
Pagam o bife com senhas.

E as donzelas vão sorrindo
nas janelas da avenida
ao galã Dom Florindo
que já se vai de partida.

“- Porra, porra, meu senhor…”
queixa-se um velho criado.
“Sempre a pedir por favor!
Sempre a dizer obrigado!”

E o amo que usava venda
na vista esquerda, coitado!
vendeu depois a fazenda
os cavalos e o criado.

Mello e Fuas de Roupinho
com cama e roupa lavada
enchem a mula de vinho
e enguias de caldeirada.

E um pobre que passa à porta
pede um pedaço de pão.
Dizem-lhe: “- A coisa está torta.
Não se pode ser patrão!”


Joaquim Pessoa
lido por Maria de Fátima Martins

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