José González Collado
BÊBADO NÃO SOUvós?olhais para mim
dizeis-me bêbado.
não. não e não.
foi a vida que me pôs assim
mas olhai bem
pois bêbado eu não sou.
só bebo para lavar a mágoa
que vai em mim.
não. não te rias.
pois és tu.
sim, tu. Oh! Mundo.
o culpado de eu estar assim.
não bêbado eu não sou.
lavo-me por dentro
para limpar a tristeza
que vai em mim.
sim lavo-me.
com vinho cerveja enfim.
ou já viram alguém
fazer lavagens ao estômago
com sabão?
não. eu também não.
porque lavo eu o estômago assim?
é para limpar o fingimento
a que o mundo me obriga a mim.
sim fingimento.
algumas vezes sou engenheiro
outras poeta doutor
e até já fui cangalheiro.
mas seja lá o que for
bêbado não.
bêbado eu não sou.
não, não te rias de mim.
pois um dia pensa bem
e talvez acordes assim.
não bêbado eu não sou.
Eduardo Roseira
in "A Colheita Intima"
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