quarta-feira, 16 de março de 2011

COMO A ROCHA

José González Collado

COMO A ROCHA

Meu velho Amigo Serrano
feito de granizo e de vento,
e de sol doirado
e quente
dos dias bons:

Nunca te dei um abraço.
gesto que não tem a ver
contigo,
com tua aparência
teu porte,
e tua forma de ser.

És rude,
és rijo e és forte,
esculpido em pedra dura
e firme,
como a amizade tem de ser.

                 E a tua é.

Meu Amigo Serrano:
O teu braço é força de aço,
pode sempre,
pode mais
e tu podes mais ainda
que o teu braço.

                Com ele eu posso contar
                e contigo.

E sob esse aspecto tão rude
há a arca do teu peito
onde guardas os segredos
e os teus filhos
e os amigos
e todos aqueles de quem gostas.

E lá no meio de tudo,
desassossegado,
descomposto
e com ritmo descompassado,
escondes um coração
de mel,
ou de manteiga,
podre de tanta afeição.

Meu Amigo:
Perdoa que te chame rude.
Olha,
vou deixar-te este segredo:

                   Estar contigo
                   tem grude
                   e as horas passam depressa.

                              Miguel Leitão

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