Meu velho Amigo Serrano
feito de granizo e de vento,
e de sol doirado
e quente
dos dias bons:
Nunca te dei um abraço.
gesto que não tem a ver
contigo,
com tua aparência
teu porte,
e tua forma de ser.
És rude,
és rijo e és forte,
esculpido em pedra dura
e firme,
como a amizade tem de ser.
E a tua é.
Meu Amigo Serrano:
O teu braço é força de aço,
pode sempre,
pode mais
e tu podes mais ainda
que o teu braço.
Com ele eu posso contar
e contigo.
E sob esse aspecto tão rude
há a arca do teu peito
onde guardas os segredos
e os teus filhos
e os amigos
e todos aqueles de quem gostas.
E lá no meio de tudo,
desassossegado,
descomposto
e com ritmo descompassado,
escondes um coração
de mel,
ou de manteiga,
podre de tanta afeição.
Meu Amigo:
Perdoa que te chame rude.
Olha,
vou deixar-te este segredo:
Estar contigo
tem grude
e as horas passam depressa.
Miguel Leitão
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