quarta-feira, 16 de março de 2011

CREPÚSCULOS

José González Collado
CREPÚSCULOS

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d’ais comprimidos…
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados,

Sentem-se espasmos, agonias d’ave,
Inapreensíveis, mínimos, serenas…
- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos brancas d’anemia…
Os teus olhos tão meigos de tristeza…
- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.

                                                   Camilo Pessanha
                                                            in Clepsidra
                                                   Miguel Leitão

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