Batei palmas magarefes
Ri-te muito carroceiros
escribas desempregados
falsários de papel-moeda
e outros azeiteiros.
Batei palmas ao poema
que hoje é o vosso dia
o dia dos sifliticos, os de cú pró ar
que se urinam e que clamam
alarvemente nas ruas
batei palmas por este dia
babai-vos na raiva que trazeis
desde o berço.
Aliviai a cachola oh vermes
batei os tamancos no chão
com os vossos colegas monitores
telefonadores inveterados
dos vossos vinte telemóveis
do último modelo da vigarice
Cuspi para o chão sem vergonha
condutores embriagados
corroídos pela sida
que fazeis tudo em contra mão
(até o que fazeis às escuras
com a criada de ocasião)
Sim. Escancarei a goela
desdentados da carne de corvo
mostrai o horror das vossas vidas
de enfermos adiados
que é esse o destino de Portugal
( ter criminosos em liberdade )
para que os honestos não possam
sequer manifestar-se
para que os tímidos
os que nunca praguejaram
os que cedem o lugar no autocarro
os que não se embebedam com whisky
que respeitam a sua vez e a vez dos outros
nas filas mortais
da segurança social
Os que nunca vão à Igreja Comerciante
onde os casamentos e batizados
são vendidos a preço de ouro
pelo vendilhão-padre de serviço.
Os que, em suas casas, não põem
a Rádio mais alta que o normal
porque são bons vizinhos
e conduzem com toda a segurança
e bebem chá sem pôr demasiado açúcar
e não falam da vida alheia,
não subornam nem são subornados
não se comprometem com a ignorância
nem com a caridade lucrativa
ou com a bondade de circunstância.
Todos esses que desprezais
mas existem na sua dignidade
vão tirar-vos o sono
com o seu exemplo
para um dia vos arrependerdes
se for possível ainda…
ó alarves da comida mais barata
do mini-preço
ó calhaus brutos da iliteracia
ó incapazes de amor e ternura
da dádiva de carinho
matriculados na prisão e não na Escola
matriculados no Aljube da sacanagem
mentirosos de profissão e de vaidade
hoje, é o vosso dia
o dia do escârneo e do vómito.
Convosco virão os falsos poetas
os do nada aprender e começar
do nada ler para assimilar
a grandeza da nossa língua.
Convosco vêm de braço dado
os donos dos lupanares
a recitar quadras “popularistas”
e receitas de cozinha.
Convosco virão os arrogantes escritores
das suas capelas fechadas a cadeado
e de janelas gradeadas para lá
não entrar a voz da Poesia.
Alpendurados de medalhas de desonra
dos seus prémios de concursos “feitos”
e nunca publicados em lugar algum
da torre e da espada!
Porque eram sobrinhos e afilhados
de algum reitor, juiz ou bispo
ou gerente de Banco e alfaiate do rei.
Convosco virão as bailarinas gordas
a dançarem em pontas com as banhas
a morgadinha dos canaviais
ou a doida do Candal
ou a outra da cova da iria
e dos três pastorinhos
OH. Sim, ó mastodontes
dos Cafés mais chiques
com os vossos filhotes de laço
e flor na lapela num chão de detritos
e pontas de cigarro estrangeiro.
Hoje é o vosso dia de Carnaval foleiro
da ceia dos cardeais do Júlio Dantas
e do discurso do António Ferro.
Convosco estarão as “grandes” cantoras
do cançonetismo nacional rançoso
de olhos felinos e decotes parabólicos
como a Ágata, Rute Marlene e outras
do mesmo nível. Todas falsas como judas
com seus estúpidos amantes
penteados e vestidos pelo herman
e comentadores de futebol que vêm de
Lisboa de propósito para relatarem um jogo
entre equipas do Norte.
Chorai sanguessugas que hoje é o vosso dia
e eu venho de preto a esse funeral.
Fernando Morais
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