quarta-feira, 16 de março de 2011

COMO O LIMO

José González Collado
COMO O LIMO

Meu Amigo Varino,
que me escapas pelos dedos
quando te pretendo agarrar.

Como o peixe, como a enguia, como o limo
tens jeitos de te escapulir,
de te soltar
dos meus braços,
de escorregar
do meu peito
quando te quero cingir.

Meu Amigo Varino:
és como a água corrente,
que a cantar
desde a nascente
se oferece à nossa boca.

A que agora me convida
e em que mergulho a taça
é já outra,
é já diferente!

Tinham os Gregos por certo
que não bebemos duas vezes
da mesma água de um rio.
A que há pouco se me ofereceu,
aqui perto,
já não é a desta taça.

Já lá vai,
mas muito à frente,
a sorrir e a saltitar,
à procura de outras taças
para saciar novas sedes
e refrescar
nova gente.

Assim contigo,
meu Varino Amigo.

Já bebi a minha dose.
A sede volta a apertar
e a taça está vazia!

Com que água irei enchê-la?

Miguel Leitão

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