terça-feira, 1 de março de 2011

PEQUENO MÚSCULO

José González Collado
PEQUENO MÚSCULO

Neve caindo lá fora,
ao alcance da minha mão
gela tudo numa hora,
não gele o meu coração!
Coração quente de amor,
que nunca soube odiar,
mesmo estalando de dor,
sempre pronto a perdoar.

Geme por vezes baixinho…
para que eu não perceba,
discreto no seu caminho
com a maior singeleza.
Meu coração tão valente,
mas que às vezes assusta
quando olha tanta gente
em situação injusta.

As coisas que ele sente!
Um pedacinho apenas,
nunca diz não, nunca mente,
e nele se juntam penas.
Meu coração escondido,
dentro do peito calado…
quase sempre oprimido
pelas agruras do fado.

E sendo tão pequenino,
de quanto ele é capaz,
leva-me pelo destino,
tão corajoso e audaz.
Eu sou apenas o escrínio
desta jóia fabulosa,
relógio ainda exímio
nesta senda dolorosa.

Ai maravilhoso motor!
Dentro de mim hás nascido,
será minha a tua dor
no fim dos tempos rendido.
Quanto sangue, quantas penas,
quanto de bom me ofereceste;
além dos filhos, poemas,
pr’ além da morte, viveste.

Janeiro, 2011
Maria de Lourdes Martins

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