José González Collado
Para todos que amam a vida
Que não se lembram de terem optado por nascer
Mas que não desejam a morte desde que se descobriram vivos!
Valdecy Alves
Vi o mendigo feliz
No sinal fatal do cruzamento da rua...
Li que o milionário infeliz
Matou sua mulher depois matou-se!
No mesmo quarto de motel
Onde fizeram amor! Amor?
Vi o cantor de invejável sucesso universal
Em plena decadência criativa e moral
Devorado pela mídia cancerígena que o criou...
Vi o sertanejo nos confins do interior atrasado
Entre mosquitos famintos, espinhos dolorosos
E calor insuportável...
Feliz sem os dentes
Ao lado da mulher desdentada
E seus dez filhos desnutridos e mal vestidos...
Soube da sexy atriz e símbolo de sensualidade
Deusa de tantos desejos e onanismos
Que se jogou do prédio
Completamente drogada
Voando para o seio da morte
Sem qualquer eficácia no arrependimento
Sem qualquer possibilidade de recurso...
Ouvi falar de um deficiente nanico, gay...
Negro, gordo e perneta
Que ao chegar a um bar
Espantava o tédio e parecia
Trazer consigo a alegria máxima
Que despertava a máxima alegria
Em todos que o rodeavam...
Sei do cego sábio e repentista
Que se tornou lenda
Cantando e declamando suas poesias...
Muitas vezes vi a prostituta da ponta noturna da rua
Que simbolizava todo o encanto, beleza e luxúria
Jamais vividas!
Que cobrava pelo prazer passageiro
Porém de graça espalhava contagiante felicidade
Como o sol raios de luz
Ao contrário da madame frugal, artificial
Que mal amava e era mal amada
Macaca das colunas sociais
Que cobravam fortunas para exibicionismo inútil
Prédio de alicerce fácil
Das areias do vazio orgulho...
Sei que a serpente
Sem perna e sem mãos
Respeitada e temida
Não alvo da piedade
Na maravilhosa floresta
Onde a vida é regra
Flor que brota da putrefata morte!
Sei do morcego cego
Que mora na caverna escura
Onde também é inquilino o odor do mofo
Mas que voa e voa alto! Altíssimo!
Com as pontas das asas tocando estrelas...
Como nenhum Ícaro jamais voou!
Sei das frágeis gotas de chuva
Que se tornam rio e depois mar
Percorrendo milhares de quilômetros
Sem bússolas e sem pernas...
Sei do músico cadeirante
A tocar no baile em pleno carnaval
Com suas músicas e notas
Mais feliz que o mais ridente dos foliões
Com o seu pó e sua bebida
Em infinita embriaguês!
Assim, amigo!
Assim, amiga!
Não há equação objetiva para felicidade
Não há fórmula subjetiva para o paraíso
Mas há espaço para o sonho infinito
E para luta sem fim!
Sonhar e lutar e sonhar e lutar e sonhar...
Como o vai-e-vem das ondas do mar na praia
Como o vai-e-vem sobre a mulher amada...
Afigura-se como a maior das ferramentas!
Para maior das possibilidades!
Valdecy Alves
Escrita em 05/03/2011 - Fortaleza (CE)
Excelente poema de Valdecy Alves, com uma soberba pintura de José Gonzáles Collado.
ResponderEliminarParabéns. Gostei.
Saudações poéticas