quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CANSAÇOS


CANSAÇOS

Cansada:
- De seguir sempre pela mesma estrada
- Desta vida parada,
Em que não há pecado nem virtude
- De ver o Sol nascer do mesmo lado
E sempre morar na mesma latitude…

- Desta cidade antiga e nevoenta
- Da fachada cinzenta
Da casa situada em frente à minha
- E de, quando por ti acompanhada,
Me sentir tão fria!... E tão sozinha…

- Destas tardes geladas e ventosas
- Das pétalas cetinosas
Das camélias que tenho no jardim
- das grades onde vivo encarcerada
E que não tem princípio…
            Nem tem fim!

Cansada:
- Das conversas que não me dizem nada
- De me sentir olhada
Como coisa banal entre outras mais
- De me julgarem simples e modesta,
Sendo eu bravia como os temporais…

- Do beijo que me dás a horas certas
- Destas noites despertas
Em que não há sonhos bons nem pesadelos
- Do feitio das tuas mãos plebeias
E da cor dos meus cabelos…

- De ver sempre louca a Humanidade
- E da vulgaridade
Deste viver – sem longes, sem espaços…
Cansada do carrego do meu eu
- E tão cansada já dos meus cansaços!

Esmeralda Tavares de Carvalho
lido por Alzira Santos

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