RETRATO
No alto do pedestal,
o sr. S. é um sátrapa –
um mandarim feroz,
facundo, impositivo.
Cheio de mandamentos
quadrados e de
discursos cúbicos,
o sr. S. agita imperativos
categóricos. Com o dedo
espetado, o sr. S. ameaça
De nariz apodíctico,
o sr. S. fareja.
O sr. S. é um crânio.
Um rato (fugaz)
de biblioteca:
Esgravata. Pesquisa.
Computa. Sopesa
números e adjectivos.
E traça percentagens.
E mói a paciência.
E dói-lhe o fígado.
E tem más digestões.
O sr. S. é um mocho
com penas de pavão.
O sr. S é um aranhão
com patas de tarântula.
O sr. S. é um verme.
O sr. S. é um vírus.
O sr. S. infecta.
O sr. S. infesta.
E replica-se.
Alta figura
de estilo capataz
dos capatazes,
o sr. S. é o ponto final,
parágrafo.
Domingos da Mota
lido por Eduardo Roseira
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