sábado, 4 de fevereiro de 2012

FRAGA DE PENA SUAR

FRAGA DE PENA SUAR

Fraga de Pena Suar,
Envolta em sol ou nevoeiro.
O teu mistério é feiticeiro,
Com mouras encantadas
Ou almas penadas!

Teu ventre despedaçado,
A golpes desumanos,
Provoca em mim,
Sofrimentos tamanhos!

Não te posso ver,
Cortada por caminhos,
Sem os pinheiros,
Onde as aves faziam seus ninhos!

Tuas pedras, espalhadas a esmo,
Despertam a melancolia,
Por toda a vida,
Que em ti se escondia!

E as hélices rodando,
Mansamente,
Empurradas pelos dedos do vento,
Vão produzindo energia,
Que esconde teu tormento
E mata toda a fantasia!

Minha serra esventrada…
Curro de Lobos!
Esvoaçando
Só vejo corvos!
Cada pedra sua história,
Sempre ficará na memória!

Cotorinho, Montes,
Para além dos penhascos
E dos precipícios,
Os parques eólicos
Exigem sacrifícios!

Como era bela,
A intacta Serra,
Qual noiva ornada
No dia de noivado,
Com alva neve
E pinguelins de gelo,
De corte delicado!
Nas agulhas dos pinheiros,
Nos ramos de cedro,
Como ricos cristais,
Pendendo de lustres,
Sobre tálamos nupciais!

E quando chovia,
Sob a água fria,
O raposão, na toca acoitado,
Nem espreitava, nem se mexia!

Um manto de silêncio,
Que alguma pinga cortava,
Caindo da árvore em que pousava,
Cobria a vetusta vegetação!

Agora somente arbustos rasteiros,
Ondulam no chão,
Quando o vento sopra,
Do Alto do Velão!

Se o sol brilhava,
Tudo dourando,
Era uma festa!
Alegres trinados,
Asas esvoaçando…
Toda a natureza,
Em plena beleza!

Nos meus devaneios,
Sempre escutava,
Felizes chilreios,
Quebrando a monotonia,
Dos caminhos solitários,
Que então percorria!

Agora quando passo,
Pelos carreiros que restam
Dos dias de outrora,
Lamento o traço
Que no papel,
Em muito má hora,
Destruiu na minha serra,
Tanta glória!

Maria Irene Costa
in “Teia de Afectos”

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