MARIAS
Lá vai Maria, lá vai…
Vai Maria, vai e vem.
Lá vai ela, vai cantando,
como uma cotovia.
Lá vai ela, vai cedinho,
vai lavar roupa no rio
Lá vem Maria, lá vem.
A rodilha na cabeça,
onde carrega o seu cântaro.
Foi à fonte, água buscar.
Lá vem ela, remexendo suas ancas,
com pressa, mas cuidado,
para a bilha não quebrar.
Acende o lume, Maria.
Teu homem está a chegar.
Tens o caldo para fazer,
o pão no forno a cozer,
para lhe dar de jantar.
Vai Maria, vai passando.
Com essa enorme barriga,
um filho está esperando.
Para juntar ao outro,
que ao colo vai carregando.
E o tempo passou!..
Lá vai… lá foi!...
A Maria teve filhos, mais e mais…
Envelheceu e engordou.
Até que enfim, teve netos.
Ficaram outras Maria,
que também vêm e vão.
Já não levam cantarinho,
e à fonte já não vão.
Têm água canalizada…
Do rio, com peixe morto,
não querem sequer o cheiro.
Têm máquina de lavar,
uma arca com congelados,
e comida pré-cozinhada.
É mais rápida, mais fácil,
servir assim o jantar.
As conversas na fonte e no rio,
com as outras Marias,
deram lugar ao sofá,
à T.V. e à novelas,
talvez… “as da vida real”…
Cantar pelo caminho?
Não, que parece mal.
É pimba!
Preferem fazê-lo em “play-back”,
ou então no “karaoke”!
Ir a pé? Nem pensar.
É cansativo.
“Jogging”, é para os tempos livres.
Têm o seu carro, comprado a prestações,
ou ganho nalgum concurso.
Rodilha na cabeça?
Também já não precisam.
É mais útil o “air-bag”,
com que o seu carro está equipado.
E lá vão elas, lá vêm,
na corrida contra o tempo,
de casa para o trabalho,
passando pelo Infantário.
E o tempo passou!...
Lá vai… lá foi!...
E então, outras Marias,
passaram a ser Avós.
……………………………………..
Repete-se o ciclo,
Apenas muda a tecnologia,
Fruto do progresso.
Maria vai, Maria vem…
Ana Maria Roseira
in “Colar de Estrelas”
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