O menino fino cola o rosto aos vidros da janela larga.
Seus olhinhos tristes ficam a brincar com os pés-descalços que brincam na rua.
Cheira a roupa velha, cheira a porcaria no grupo do eixo.
O grupo do eixo tem o nariz sujo, tem pintas de pulgas no pescoço magro.
O grupo do eixo manda à merda o frio que lhe corta a carne.
O grupo do eixo tem piolhos negros a manchar o ouro dos anéis doirados da sua cabeça.
O grupo do eixo exige tostões às pessoas finas que cortam a rua
E diz palavrões a todas as moças que passam na rua.
E brincam na rua,
E vivem na rua,
Esses pés-descalços do grupo do eixo.
Os vidros encobrem todas as diferenças que vão do menino para os pés-descalços.
Só a rua fica, só o eixo fica nos olhinhos tristes do menino fino
A quem proibiram de abrir a janela e entrar na vida.
Nem pai nem mãe o deixaram partir,
Ao menino rosado de estrela na testa.
Era só correr mundo num cisne branco
Era só abrir a janela do quarto
Era só acenar
Só…
O menino partiu, de estrela na testa.
Maria Almira Medina
in “Madrugada”
lido por Lourdes dos Anjos
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