quarta-feira, 24 de outubro de 2012

PESADELO


PESADELO
 
Esta noite é pesada como chumbo.
Meus versos são fantasmas que eu sei de cor…
e passam um a um na minha frente
banhando a minha fronte de suor.
 
Nem uma estrela só por entre as trevas.
Lá fora só há vento…
negro vento…
E eu grito ao vento:
            - Porque não me levas?
            - Acaba duma vez meu sofrimento!
Mas o vento não quer.
E novamente os versos
passam…
são fantasmas…
e quando passam dançam.
Dançam danças-plasmas,
dançam
e não se cansam.
 
Nem uma estrela só.
Como é sombria
a noite lá de fora sem estrelas dentro…
E eu grito:
- Vem a mim, ó Deusa d’Agonia!
            - Acaba-me de vez meu sofrimento!
Mas a Deusa não quer.
E novamente os versos
passam…
são fantasmas…
e quando passam dançam.
Dançam danças-plasmas,
dançam
e não se cansam.
 
Sinto o peso da noite a oprimir-me o peito.
Pára-me o coração por um momento…
e grito:
            - Ó noite, vem buscar-me ao leito!
            - Acaba-me de vez meu sofrimento!
Mas a noite não quer
E novamente os versos
passam…
são fantasmas…
e quando passam dançam.
Dançam danças-plasmas,
dançam
e não se cansam.
 
A febre foi-se embora.
Já respiro fundo…
Já quase não suo
Invado-me de calma…
Mas novamente os versos
pesados como chumbo
Nas suas danças plasmas
me vão pisando…
a alma.
 

Ulisses Duarte
in “Da Minha Paisagem”
lido por Eduardo Roseira

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