quarta-feira, 24 de outubro de 2012

POR UMA MOEDINHA


POR UMA MOEDINHA
 
Percebi-me, sem ponta d’inspiração,
vontade d’escrever em verso
mesmo sóbrios, pensares d’ocasião
q’em mim afloram. – Submerso
num marasmo por inactividade
decidi ir-me pela cidade
 
“Uma moedinha, tenho fome
bondade sua, por favor!
- fiquei só no mundo, tome
leia-me esta carta, doutor!”
 
Moedinha é de todo indivisível
Partilhada, só se destrocada,
e para que fique percetível
foi-se o analfabeto fiquei sem nada.
- Em redor, gente c’riso trocista,
não viu o despiste dum automobilista!
 
Morria Ambrósio da Silva Penteado
sobrevivente da guerra d’ultramar
asseguro, colhido por carro importado
sabe-se lá se ainda… por pagar
 
Não tive coragem de reaver do chão,
a moeda que mudara de mão.
 
Adolfo Castelbranco

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