quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ESPERAS INÚTEIS

 
ESPERAS INÚTEIS
Tanto tempo te esperei
sem dar pelo correr das horas
e da vida
à margem de mim
— estéreis compassos de espera
sem haver fruto a valer!
Tu não vinhas
e, se vinhas,
não vinhas de modo inteiriço,
tendo deixado, algures,
caída,
uma boa parcela,
a melhor parcela de ti.
E, quando vinhas,
Eu não te podia esgotar
no teu ser incompleto,
no teu ser oco por dentro
— eras só casca de fora,
que o miolo lá ficara
por paragens bem estranhas,
mas em que tu bem te querias
e a olhos vistos medravas.
Consagrei-te tempo a mais
em esperas sucessivas,
prolongadas,
dolorosas…
mas inúteis!

Agora, bem podes vir.
Podes vir quando quiseres
que não mais darás por mim
nem sentirás nos ouvidos
o eco frio de meus passos
— passos perdidos,
a dobrarem as esquinas
e a arrastarem-se no chão
de gares calcorreadas
em tantas esperas
em vão.
Vi o tempo a ir-se embora,
as horas a irem voando
como pássaros friorentos
a imigrar,
em cata de outra morada.

Desandei…
e fui com eles,
ansiando primaveras
que, tardias,
ainda darão cor ao viver!
“Quem espera desespera”, bem eu sei,
mas não foi o desespero
que te pôs termo e à espera,
fui eu.
Eu
que agora já não te espero…
apenas…
porque não quero!

8 de outubro de 2012
Miguel Leitão

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