MELANCOLIA
Não posso ver os ramos do pinheiro
a oscilar, nostálgicos, ao vento…
É um adeus, aquele, o derradeiro,
que me veste de luto o pensamento.
E comove-me a chuva persistente,
batendo em gotas lentas na vidraça;
ao ver que tudo chora amargamente,
eu já sinto no ar uma desgraça.
Inquietam-me as ondas altaneiras
que se agitam, intensas, sobre o mar!
Lembram a raiva, as horas traiçoeiras,
a vaga da revolta a reclamar!
Mas como adoro o sol! Vê-lo nascer,
igual ao despontar de uma esperança,
como o desejo enorme de viver,
ouvindo o puro riso da criança!
Amo as águas, os rios, os lagos,
como se fossem o sangue destas veias!
São poemas cantantes, murmurados,
é poesia em vales e aldeias!
De tudo que este olhar tem visto
amo a terra! Às vezes abomino!...
Se, por consequência, nela existo,
inexoravelmente nela termino!
Maria de Lourdes Martins
in "Castelo de Legos"
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