terça-feira, 20 de setembro de 2011

A PEDRA


A PEDRA

A pedra para lá de ser a casa
é a nossa insurreição à dor do frio
o cão de guarda que não guarda nada
é um cão de pedra ali mesmo à entrada.

Mais clara em Lisboa é no Porto que é dura
na escama da sua pele brilham os cinzéis
e então é vê-la donairosa e segura
quando feita capela a receber os fiéis.

A cornija, o arco e as volutas
algumas tão amigas, enrugadas, musgáveis
são páginas da história, pergaminhos do tempo
escadarias sem fim e varandas ao vento.

Vamos soletrar a paz para as crianças
vamos chamar a ilusão e o sonho
vamos impedir a sórdida matança
e não deixar nunca torná-la popular

Vamos gastar os dias e as noites
a escrever no espaço bem visível
em vez de satélites-espias
a palavra paz de forma inesquecível.

Vamos, então, antes que tudo acabe
com a acabar de cada um de nós
saibamos dar à vida mais um sopro e um alento
antes que fiquemos totalmente sós.

Fernando Morais
in O Poeta Escondido

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